Manual da Familia
ASSOCIAÇÃO CULTURAL CASA DAS CALDEIRAS - ACCC
PRESIDENTE ACCC
Karina Saccomanno Ferreira
DIREÇÃO DE PROJETOS
Joel Borges de Freitas Projetos Culturais
AUTOR DO PROJETO E-BOOK
Maria do Carmo Brant de Carvalho
GESTÃO, CURADORIA
E PESQUISA PARA O E-BOOK

Karina Saccomanno Ferreira
Patricia Mendes
Maria Brant
Tiago Falcão
Marcela B. Camara
ENTREVISTAS DOMICILIARES
Patricia Mendes
Marcela B. Camara
Nilce de Souza
Carlos Maldonado
CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO DAS OFICINAS PRESENCIAIS
Karina Saccomanno Ferreira
Patricia Mendes
Marcela B. Camara
Carlos Maldonado
FILMAGEM E REGISTRO DE DEPOIMENTOS DAS OFICINAS
Tiago Falcão
Cleyton Cristiano Russo
Leandro Moaraes 
FOTOGRAFIAS DAS OFICINAS
Tiago Falcão
Cleyton Cristiano Russo
Patricia Mendes
Marcela B. Camara
Carlos Maldonado
Plínio Meirelles

                                                                      Manual da Familia

 
RE-EDIÇÃO
Karina Saccomanno Ferreira
Patricia Mendes
Marcela B. Camara
Carlos Maldonado
Plínio Meirelles
NOVO CAPÍTULO 'E TUDO COMEÇOU AQUI'

Karina Saccomanno Ferreira Patricia Mendes
Marcela B. Camara
Carlos Maldonado
Plínio Meirelles
Luciana Gandelini
Tiago Falcão
e colaboração de Maria Brant

PROJETO GRÁFICO
Papanapa
WEBSITE E APLICATIVO
Mariano Camara Santos
ILUSTRAÇÕES
Leandro Lobo
Juliana Russo Burgierman (ilustrações para animação vídeo)
PATROCINADOR
Fundação Itaú Social
AGRADECIMENTOS

Priscila Dias Leite, Gabriela Jorge, Bruno Carvalho de Brito, Gabriela Monis Bidin Perroni, Júnior Guimarães, Karin Frutig, Kátia Lima Coelho, Laudicéia dos Santos, Tatiane Brites, Alan Albuquerque Correia, Otoniel Niccolini, Maria Lidia Constantino Miguel, Wanderley Ricardo Fontes, Paulo Celso Borges, Lilian Mistero Ardito, Jôse Batista da Silva, Antonio Jacinto Matias, às famílias entrevistadas, às famílias e profissionais que participaram das oficinas e vivências e às Coordenadoras de Pais da cidade de Santos

                                 Manual da Familia
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
EU SOU FAMÍLIA
CAPÍTULO 2
EU SINTO...
CAPÍTULO 3
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES SÓCIO RELACIONAIS
CAPÍTULO 4
EU POSSO...
CAPÍTULO 5
E TUDO COMEÇOU POR AQUI...
ATIVIDADES PARA FAMÍLIA...
ANEXOS
Antes de mais nada, gostaríamos de nos apresentar:
Somos uma equipe multidisciplinar empenhada em pesquisar e se aprofundar a respeito das relações com a intenção de transformar positivamente o convívio familiar e o convívio em sociedade. Partindo das pesquisas sobre o desenvolvimento das habilidades sócio emocionais e da concepção do Manual em Família com seus capítulos EU SOU FAMILIA, EU SINTO, EU POSSO, seguimos para práticas de convivência com famílias e com profissionais que trabalham diretamente com famílias.
Estamos hoje num lugar diferente. Avançamos muito! E agora, com a oportunidade de uma publicação impressa do MANUAL EM FAMÍLIA, revisitamos todo o material produzido em 2015-2016 e adicionamos um novo capítulo com foco na Primeira Infância, entendendo a importância desta fase no desenvolvimento integral e pleno das crianças – E TUDO COMEÇOU POR AQUI. Tivemos o cuidado de alinhar todo o material com o nosso momento presente.
Esta versão representa o nosso momento atual.
Sejam todos bem-vindos!
Afinal, para o Manual em Família somos todos membros de uma família. Família para nós é lugar de cuidado, afeto e proteção pode não coincidir com a família de sangue, mas pode ser a família que a gente escolhe, família que adotamos ao longo da vida, família de muitos ou família de um só. Família é...

www.manualemfamilia.com.br
www.casadascaldeiras.com.br/blog
contato@manualemfamilia.com.br
Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema...
Não é para qualquer um.
Os truques, os segredos, o imprevisível.
Às vezes, dá até vontade de desistir...
Mas a vida... sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite.
O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida.
Trecho do romance de Francisco Azevedo em “O arroz de palma”, pg 11 , 2008

INTRODUÇÃO
 
Não haveria melhores palavras para introduzir o Manual da Família que as de Francisco Azevedo. Afinal, quando se trata de família, não existe receita pronta, não há fórmula mágica. Não apenas os tipos de família são os mais variados, mas o que funciona em uma família pode desandar em outra. Cada família é única e insubstituível e, apesar do atual descrédito atribuído a esta instituição, ela continua sendo a base da educação, dos cuidados e da formação de todos nós.
Para que pudéssemos escrever este manual, muitas famílias contaram suas histórias. Fizemos entrevistas, ouvimos depoimentos, nos inspiramos em romances, novelas, artigos... E, como não podia deixar de ser, nos guiamos também por nossas próprias histórias familiares.
Famílias persistiram no tempo, enfrentando guerras, fome, pragas, pobreza e miséria, luxo e riqueza. Traçando a história dos tempos e das sociedades em que viveram e marcando seu lugar como o núcleo mais básico e persistente da humanidade.
Manual da Familia
Pensava-se que a família poderia desaparecer quando, em meados do século 20, a democracia cresceu, a urbanização explodiu e os movimentos sociais feministas gritaram por liberdade e expressão. Mas a família não morreu, continua firme e forte!

A Família desde sempre foi pensada com uma missão principal: a reprodução da espécie. Hoje, ela é mais bem pensada como um modo desejado de sobrevivência e existência humano social. Ela, a família, tem a cultura de seu tempo como terra fértil a guiar seus passos. A verdade é que as famílias criaram novos modos e estilos de vida; as mudanças alimentaram-se da emancipação social decorrente da busca de liberdade e autonomia derivada de sociedades democráticas e do progresso. Tais mudanças vêm sendo impulsionadas por contínuas inovações tecnológicas e científicas que conferem cada vez mais ao indivíduo a responsabilidade por seu destino.

Resultado disso é que a figura do “papai-sabe-tudo” perdeu espaço. No século 21, a informação está aberta e disponível a todos, a todas as faixas etárias, criando um poder negociado. Os filhos também passaram a ter voz e ensinar, principalmente no que diz respeito às novas tecnologias, que para eles não são novidade, fazem parte de seu tempo.

As novas gerações são nativas da era digital e informacional. Apresentam outra racionalidade cognitiva, onde o aprender se faz descentrado e difuso. Fascinados pelo mundo digital, mesmo os adolescentes de menor poder aquisitivo estão conectados à internet, que lhes dá acesso à informação, às redes sociais e aos games online. Carregam a multimídia no bolso, o que lhes oferece um ganho de autonomia desorientada.
Nessa sociedade, as crianças estão sob forte pressão para serem bem-sucedidas. Muitas vezes, os pais sobrecarregam os filhos com suas expectativas em relação aos seu desempenho, mas tais expectativas nem sempre estão claras e coerentes com as possibilidades e desejos dos próprios filhos. Os pais tampouco, parecem ter clareza de que expectativas só se concretizam num perseverante esforço para torná-las alcançáveis. O bom desempenho exige apren- dizados cumulativos e, portanto, um esforço formativo contínuo.


Temos hoje novas práticas de trabalho; somos mais escolarizados; a expectativa de vida é maior; convivemos com uma sensação vertiginosa de velocidade e efemeridade nas novas formas de experiência social e afetiva; vivemos um mundo conturbado com violência, terrorismo, corrupção, aquecimento global, poluição, impotência e falta de governabilidade. Na mesma medida, cresce a consciência e a responsabilidade por nossos atos, junto com a solidariedade, o trabalho social e a luta por um mundo cada vez mais sustentável.
 

MAS QUAL É A NOSSA RESPONSABILIDADE ENQUANTO MEMBROS DE UMA FAMÍLIA?




 
EU SOU FAMÍLIA

EU SOU A FAMÍLIA. NÃO IMPORTA A QUE CUSTO, COM QUE DINÂMICA, EM QUE QUANTIDADE, CUMPRO MEU PAPEL. SEMPRE. E COM AMOR.
 
Primeiro de tudo, claro, protejo meus filhos. Não deixo ninguém à deriva, mas também não superprotejo. Quero que cresçam e se desenvolvam.Faço um trabalho de formiguinha, no arranjo que for. Posso ser em muitos, poucos, dois, três, quatro, com agregados, tio, tia, avó, papagaio, ou a formação que for, tento de tudo, todas as estratégias.

 Os obstáculos aparecem, e como! Nem sempre encontro os recursos de que preciso e a que tenho direito. Os serviços públicos, por exemplo, nem sempre nos assistem com a devida atenção, mas sacudo a poeira e trato de tirar dali o melhor que posso, nem que seja uma lição para a próxima. Eu sou a família. Eu, você e todos nesse núcleo que nem sempre é perfeito, exato, fechado ou harmonioso. Eu sou o que faz com que todos sigam em frente, sem desistir dessa comunhão que, por algum motivo especial, nos une e fortalece.

 O que nos une pode ser o laço de sangue, pode ser o encontro da vida, pode ser as nossas escolhas, pode até ser a falta de escolha, mas sobretudo é no compromisso de seguirmos em frente, na responsabilidade dos cuidados, na preocupação com os nossos, na vontade de proteger e acolher, e, principalmente, no amor e no respeito que de fato nos fazemos FAMÍLIA.

 Sou a família de hoje: múltipla! Minha estrutura é das mais variadas. Posso ter dois pais, duas mães, um pai e uma mãe, duas mães e um pai e quem sabe nem ter pai ou mãe, mas avós, padrinhos, madrastas ou padrastos. Desde que um laço de proteção mútua exista. Laço que pode ser resistente como aço ou frágil como um barbante. Só depende de mim, da família. Eu, você e todos que temos a função diária de educar, cuidar, proteger. A base de tudo é o afeto.

Manual da Familia
NO TODO DIA

A maioria das famílias enfrenta um longo dia de trabalho, além de grandes distâncias e trânsito. Por isso, o celular ganhou um papel importante: aproxima a todos e permite que os pais acompanhem mais de perto a rotina de seus lhos. QUEM NÃO tem pelo menos um grupo da família no WhatsApp?
Família acorda cedo. Tem que trabalhar, dar o que comer, preparar e levar os lhos para a escola. É no desenrolar do dia que cada família encontra seus desafios. Umas enfrentam o transporte público e por volta das 5 horas da manhã já têm que estar na rua. Outras vão de carro ou se esforçam para pagar a “perua”, que cumpre a função de levar as crianças à escola.
 
“TRABALHO PARA OFERECER O MELHOR PARA
MINHA FILHA. MAS ACABO FICANDO LONGE O DIA INTEIRO, CHEGO TARDE. FAÇO QUESTÃO DE LIGAR PRA MARI TODOS OS DIAS DEPOIS DO ALMOÇO. QUERO SABER COMO FORAM AS COISAS NA ESCOLA E SE ELA COMEU TUDO. QUANDO PASSO UM POUCO DA HORA, ELA ME LIGA PERGUNTANDO SE ESQUECI DELA.”

 
Clara, 42 anos, secretária e mãe da Mari, 6 anos.

VAMOS REFLETIR?

COMO É A SUA FAMÍLIA? QUEM PARTICIPA DELA, QUAIS SÃO OS SEUS ARRANJOS? JÁ PAROU PARA PENSAR COMO OU SE É DIFERENTE DE OUTRAS, EMBORA TENHA TRAÇOS PARECIDOS?
Na correria da semana, o jantar costuma ser a hora em que a família se reúne. Todos podem fazer uma atividade coletiva, cozinhar, arrumar a mesa e também conversar sobre o dia. Mas é unânime: ninguém vence o almoço de domingo, um momento sagrado do convívio familiar. O dia em que a maioria das famílias está de folga. Al- gumas famílias só folgam em dias de semana.

VAMOS REFLETIR?

QUAL É O SEU COM A SUA FAMÍLIA? O QUE VOCÊS GOSTAM DE FAZER JUNTOS? DO QUE VOCÊS SENTEM FALTA PARA APROVEITAR AINDA MAIS ESTES ENCONTROS? 

“COMO EU FOLGO NA SEGUNDA, MEU MARIDO DEIXA PRA TIRAR A FOLGA DELE COMIGO. É O DIA QUE EU MAIS GOSTO! A GENTE APROVEITA PARA FICAR JUNTO, ARRUMAR A CASA E COZINHAR. TODO MUNDO SE DIVERTE, ATÉ AS MENINAS.”   
 Lena, 50 anos, atendente de padaria e mãe da Maria, 26 anos, da Laura, 17 anos e da Paula, 11 anos. 

 
Na correria da semana, o jantar costuma ser a hora em que a família se reúne. Todos podem fazer uma atividade coletiva, cozinhar, arrumar a mesa e também conversar sobre o dia. Mas é unânime: ninguém vence o almoço de domingo, um momento sagrado do convívio familiar. O dia em que a maioria das famílias está de folga. Algumas famílias só folgam em dias de semana. 

As tarefas domésticas costumam ser motivo de briga em algumas famílias. Manhê, tô com fome! Já lavou a louça que eu pedi? Olha a roupa suja fora do lugar! E esse tênis no meio da casa? Mas o que se ouve da maioria das famílias é que, cada vez mais, essas polêmicas tarefas estão sendo compartilhadas. Na casa do Ricardo, por exemplo, tem um quadro com a divisão das atividades, cada um tem uma obrigação. E funciona! Em outras casas, não precisa disso, todo mundo já se acostumou a ajudar a mãe que chega cansada do trabalho. Tem marido que cozinha, outros preferem limpar a casa, fazer compras. As crianças participam e quanto mais velhas, assumem mais tarefas, inclusive a de ajudar o irmão mais novo com a lição da escola. Mesmo as famílias que contratam alguém para cuidar da casa, compartilham tarefas. Cada um fica responsável pela arrumação dos próprios objetos, da própria cama, ou por aquela loucinha de domingo. Mas ainda assim, acreditem, as meninas e principalmente as mães, das famílias que colaboraram com o "Manual", costumam assumir a maior parte das funções domésticas. 
  
Embora a responsabilidade pela organização e manutenção da casa seja, e deva ser, dos adultos, é importante que os lhos participem da rotina da casa e tenham pequenas responsabilidades como arrumar os próprios brinquedos ou o material da escola. Isto ajuda no desenvolvimento do senso coletivo, do autocuidado e autonomia. Manual da Familia
Com tantas tarefas, as famílias que contaram suas histórias ao “Manual” compartilham de poucas atividades lúdicas e recreativas em família. Além da hora do jantar ou do almoço de domingo, costumam se reunir em celebrações e práticas religiosas.
Para burlar o tempo curto que sobra para a convivência familiar, algumas famílias usam as tarefas domésticas como forma de estar juntos, convidando os filhos para participar do preparo do jantar ou car por perto arrumando a mesa. Veja, a responsabilidade pelo jantar continua sendo do adulto, mas o filho é convidado a colaborar.
 
“EU E MINHA FAMÍLIA, NÃO COSTUMAMOS PASSEAR MUITO NOS DIAS DE FOLGA. O QUE A GENTE FAZ MESMO, É JUNTAR A FAMÍLIA TODA NO QUINTAL QUE A GENTE MORA. É UMA FARRA SÓ!” 
Carlos, 62 anos, serviços gerais e é pai de Jonas, 24 anos, Mário, 22 anos e André de 15 anos
 

No todo dia, a família se expande: para dar conta de tudo, é comum pedir ajuda. Aí, entram os vizinhos, amigos, avós, tios, enfim, a tão famosa família estendida, que dá aquela força!
 
“VIM SOZINHA PARA SÃO PAULO. NÃO TENHO NENHUM PARENTE POR AQUI, MAS TENHO MUITO CARINHO PELOS MEUS VIZINHOS, CONTO COM ELES COMO SE FOSSEM MINHA FAMÍLIA.”        
 Lena, 50 anos, atendente de padaria e mãe da Maria, 26 anos, da Laura, 17 anos e da Paula, 11 anos.
Manual da Familia"EU E MEU MARIDO ADOTAMOS O RAFAEL COM DOIS ANOS, ELE NÃO ANDAVA E NÃO FALAVA. NINGUÉM SABIA DE NADA SOBRE A EXTENSÃO DO PROBLEMA DELE. NÓS NOS APAIXONAMOS NO PRIMEIRO MINUTO. HOJE ELE TEM SETE ANOS, FALA, ANDA, BRINCA E CONVERSA COMO QUALQUER CRIANÇA DA IDADE DELE. FOMOS AMOROSOS, PACIENTES E FIRMES COM ELE, APESAR DE SEUS PROBLEMAS, POIS ACREDITAMOS QUE LIMITES E ROTINA SÃO FUNDAMENTAIS. ALGUMAS VEZES, NOS QUESTIONAMOS SE NÃO ESTAMOS SENDO MUITO RÍGIDOS, MAS AO OBSERVARMOS SUA EVOLUÇÃO E DE OUTRAS FAMÍLIAS, SENTIMOS QUE ESTAMOS NO CAMINHO CERTO. TAMBÉM PERCEBEMOS QUE ELE TEM MAIS RESPEITO E AFINIDADE COM OS ADULTOS QUE DÃO LIMITES. ”
Antônio, 35 anos, proprietário de uma escola de idiomas e Rodrigo, 31 anos, consultor de turismo

E vamos combinar que educar os filhos não é tarefa fácil. Hoje em dia temos relações cada vez mais horizontais e ainda, crianças e jovens com uma forte e insistente capacidade de argumentação. A educação é a grande tarefa diária da família, passando por todas as outras, exige paciência, diálogo e consistência. Se você parar e reparar bem, toda família tem suas exclamações:

"NÃO!"
"EU DISSE QUE ERA PRA FAZER!"
"PARA DE BARULHO, SILÊNCIO!"
"VAI ESTUDAR! CHEGA DE VÍDEO GAME!"
"ESTA ROUPA NÃO!" "MAS, MAMÃE TODO MUNDO USA..."
"TEM QUE APRENDER O QUE ENSINO EM CASA, SE FOR APRENDER NO MUNDO VAI SOFRER MAIS!"
"É HORA DE DORMIR!" "MAS UM POUQUINHO VAI..."

 
 
 
E VOCÊ, SE IDENTIFICOU?

JÁ PAROU PARA PENSAR QUAIS AS PALAVRAS QUE VOCÊ MAIS USA COM OS SEUS FILHOS? COMO VOCÊ SE COMUNICA COM SEUS FILHOS? COMO VOCÊ FALA COM SEUS PAIS, SEUS IRMÃOS? COMO VOCÊ ACHA QUE ISTO PODERIA MELHORAR?

NOSSOS ARRANJOS DE PROTEÇÃO MÚTUA INCLUEM TAMBÉM A FAMÍLIA ESTENDIDA
Morar nos arranjos da periferia, onde muitas famílias dividem o mesmo quintal, favorece que a grande família fique por perto. Encontramos muitos exemplos dessa união nas histórias relatadas.

Carla, por exemplo, mora em uma pequena casa no fundo de um quintal onde moram outras três famílias de primos e outros vizinhos. É com eles que Carla conta quando precisa de ajuda com as crianças. Nair morava, até pouco tempo, no quintal da família. Depois da reconciliação com o marido, se mudaram para outro bairro. Ela conta que a mudança foi importante para o casamento dar certo, ele precisava ficar longe do bar... Mesmo assim a relação com a família alargada continua próxima. Costumam visitá-los quase todos os fins de semana. Jacira, mora na casa que foi de seu avô - construída em 1964. O terreno tem mais três casas que são de seus tios e primos. Todos os vizinhos são praticamente da família e os outros, são tão antigos que se tornaram parentes por afinidade. Lena nasceu no interior da Bahia e perdeu a mãe quando tinha seis meses, foi criada pela segunda mulher de seu pai. O que mais lhe doía era ouvir a madrasta chamar seus irmãos de filho e ela não. Hoje em dia, se preocupa em não deixar ninguém sem esse tipo de afeto e faz de seus vizinhos sua grande família.
Manual da Familia
Fora da periferia a realidade é um pouco diferente. A proximidade com a família extensa não é tão estreita, embora os avós apareçam como figuras bastante presentes. O mais comum é que as crianças fiquem na escola por período integral ou tenham babás. Como é o caso da pequena Luiza que aos 6 meses de vida, com o fim da licença maternidade, passou a frequentar a creche. Os avós da menina participam o quanto podem e quebram muitos galhos! Mas ainda assim, a creche é necessária.

Na maioria das vezes, os próprios pais ou irmãos são a grande referência das famílias.  Os pais de Clara, por exemplo, eram muito duros, e até batiam. Apesar da rigidez na criação, ela conta que eles davam exemplo. Foi com o pai que Clara aprendeu os valores que considera mais importantes para uma boa educação: honestidade, compaixão e caráter.


Além dos familiares, outras figuras fazem parte e inspiram a vida diária. Para Lena, sua referência é o mundo. Conta que quando saiu de casa viu muita coisa, sofreu e aprendeu o que queria e o que não queria para sua vida.

VOCÊ PODE CONTAR COM ALGUÉM NO TODO DIA? QUAIS VALORES FAZEM PARTE DA SUA EDUCAÇÃO? O QUE VOCÊ FAZ QUESTÃO DE REPASSAR AOS SEUS FILHOS? EM QUEM VOCÊ SE INSPIRA?

VOCÊ REPAROU QUE SE PARARMOS PARA ESCUTAR HISTÓRIAS AO NOSSO REDOR, SOMOS CAPAZES DE PERCEBER E RESGATAR LINDAS HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO, LINDAS HISTÓRIAS DE AMOR E DEDICAÇÃO? NÓS FIZEMOS ISSO, OUVIMOS MUITAS FAMÍLIAS E MUITAS HISTÓRIAS NOS INSPIRARAM!
EXERCITAR A ESPIRITUALIDADE PODE
CONTRIBUIR POSITIVAMENTE PARA A CONSTRUÇÃO DE VALORES

 
A espiritualidade é a conexão com algo maior, que transcende o material. Tem a ver com a busca de um propósito, de um sentido. Como cada um pratica a espiritualidade é outra história, pois este é um processo muito particular. Pode ser uma experiência sagrada, transcendental.

Alguns revelam um sentimento de ligação com uma divindade superior, seja um Deus, uma Deusa, mais de uma divindade, a força da natureza, o Eu interior, a humanidade. Uns seguem religiões, outros, filosofias de vida. Independente da crença, o exercício da espiritualidade costuma envolver ritos que, em geral, implicam no encontro. Traz consigo a sensação de conforto, segurança e esperança.

Contribui positivamente para a construção de valores na medida em que favorece a relação e a percepção de si mesmo e do outro, promovendo empatia, compaixão, solidariedade, aceitação, confraternização, união, disciplina, autopercepção e como ouvimos de muitas famílias com quem conversamos, boas conversas e bons encontros!

 

NÃO IMPORTA SE TEMOS UMA RELIGIÃO, O IMPORTANTE É REFLETIRMOS SOBRE MENSAGENS QUE COLOCAM EM PERSPECTIVA A NOSSA CONDIÇÃO HUMANA
 
  • Para Maria, a religião é tudo, considera que o amor ajuda a unir e a religião a fortalecer, amparar e guiar os seus passos.
  • Clara se considera uma católica não praticante, mas ter algo em que acreditar foi muito importante para aceitar a morte da mãe. 
  • Sonia é evangélica, para ela Jesus é tudo, é seu protetor, foi na fé que encontrou forças e refez sua vida, aprendeu a amar, a se respeitar e a conversar com os filhos.
 
  • Carlos se diz sem religião, acredita num Ser Superior, mas pauta sua vida em valores éticos.
  • Para Jenifer, a Umbanda lhe acolheu num momento difícil, por questões de saúde se aproximou e se encantou. O contato com as pessoas neste contexto espiritual fez Jenifer se descobrir, aprendeu a ser uma pessoa melhor, a exercitar a fé com amor, respeito e humildade.
  • Beatriz era católica não praticante, frequentou várias religiões, mas foi no Espiritismo que encontrou o seu sentido, se sentiu acolhida nas suas inquietações e através das suas práticas encontrou sentido.
NO QUE VOCÊ ACREDITA?
VOCÊ COMPARTILHA SUAS CRENÇAS COM SEUS FILHOS E FAMÍLIA?


ATIVIDADES CULTURAIS E DE LAZER

Algumas famílias usufruem das oportunidades do bairro, frequentam o SESC, praças ou aulas de ginástica e futebol. Mas a grande maioria delas, não tem muita chance ou interesse em ir ao teatro, cinema, eventos e shows. O bairro em si, costuma apresentar poucas oportunidades culturais e de divertimento, que ficam mais distantes na cidade.
A diversão se concentra mesmo é no convívio familiar, com vizinhos, dentro do bairro e, muitas vezes, em volta da mesa.

A filha da Carla faz todos os cursos ofertados pela comunidade. A própria Julia faz caminhadas com amigas vizinhas e um dos filhos faz aulas de futebol no bairro. Jacira faz artesanato e costura afro - um prazer e um lazer!

DO QUE VOCÊ SENTE FALTA NA SUA VIDA CULTURAL E SOCIAL? SE SENTE FALTA DE ALGO, O QUE TE IMPEDE DE BUSCAR E FAZER?
 
ATIVIDADES CULTURAIS E DE LAZER
 
Algumas famílias usufruem das oportunidades do bairro, frequentam o SESC, CEUs, praças ou aulas de ginástica e futebol. Mas a grande maioria das famílias com quem conversamos, não vai ao teatro, cinema, eventos e shows. O bairro em si costuma apresentar poucas oportunidades culturais e de divertimento, pois estas cam mais distantes, no centro da cidade.
Para essas famílias, a diversão se concentra mesmo é no convívio familiar, com vizinhos, dentro do bairro e, muitas vezes, em volta da mesa.

A filha da Carla faz todos os cursos ofertados pela comunidade. A Julia faz caminhadas com amigas vizinhas e um dos filhos faz aulas de futebol no bairro. Jacira faz do artesanato e da costura afro um prazer e um lazer!

 
DO QUE VOCÊ SENTE FALTA NA SUA VIDA CULTURAL E SOCIAL? O QUE VOCÊ PODE FAZER PARA AM- PLIAR AS POSSIBILIDADES? QUE TAL REDESCOBRIR O BAIRRO JUNTO COM AS CRIANÇAS? ELAS TRAZEM NOVOS OLHARES SOBRE TUDO, E NOS ENSINAM!
 
EDUCAÇÃO DOS FILHOS
 
Educar na família mistura cuidado e proteção contínua. Tem sabor de formação para a vida, sabor de desenvolvimento humano pleno! A escola pode fortalecer e ampliar a educação familiar. Na escola se amplia o exercício do convívio social, com seus conflitos e diversidade de crenças e pensamentos. Como é bom quando escola e família se completam!

O jeito de educar mudou! Atualmente é comum os pais pedirem ajuda aos filhos na interação digital. O pro- fessor, volta e meia, é surpreendido pelo aluno com uma informação que não conhece ou não domina.

Desta forma, se estabelece uma nova relação, que exige muito de quem educa: capacidade de escutar, aprender,
argumentar, para estabelecer limites e cobrar responsabilidade. Um processo de intenso diálogo, negociação, onde os modos do velho aprendizado não funcionam mais.

 
Educar exige muito esforço, perseverança e responsabilidade. A internet democratizou a informação e veio para dentro das relações familiares. Trocamos experiências e informações o tempo todo. Nos tempos atuais a cultura fortaleceu relações mais igualitárias e horizontais. Tudo vira conversa, pergunta, pesquisa conjunta e argumentação.

A ajuda e a participação dos pais é tão importante quanto a sua insistência sobre os estudos: deve-se, antes de tudo, oferecer limites, exemplos e suporte para que os lhos se envolvam e aproveitem da educação escolar.
Observamos que nem todos os pais conseguiram o letramento necessário para a vida de hoje. Mas os filhos estudam. Alguns com defasagem escolar, outros abandonam a escola, mas prometem fazer supletivo. Quando tem lição de casa, nem todos os pais conseguem ajudar, apelam para quem pode: para o filho mais velho, para as sobrinhas ou simplesmente, apoiam com sua presença.

Ricardo, por exemplo, considera que a coisa mais importante que pode oferecer aos lhos é uma educação plena: formal, social e emocional.
Sonhamos que nossos filhos tenham sucesso escolar. Tratamos a educação como obrigação e sonho de toda família. Para os nossos filhos, queremos uma vida melhor do que foi a nossa e sabemos que a educação é a melhor forma de garantir isto.
Na família o amor, o cuidado e o respeito são fundamentais. Não se educa sem afeto!
Como pais, somos legítimos transmissores de valores e cuidadores da jornada de desenvolvimento dos filhos.
 
SOMOS FAMÍLIAS TRABALHADORAS
 
 O trabalho é valor e condição de sobrevivência para as famílias que contaram suas histórias ao “Manual”. Pai, mãe e, muitas vezes, os filhos mais velhos trabalham. Seja no mercado formal, informal, ou como empreendedores.

Muito do ritmo familiar é dado pela dinâmica de trabalho dos membros da casa. Se precisam contar com a família estendida, se precisam pagar a escola em tempo integral, a creche ou uma pessoa para olhar os filhos. Se sobra tempo para o lazer ou se o tempo que sobra é para arrumar a casa. Em tudo isso a rotina de trabalho interfere. Vemos famílias guerreiras, que enfrentam a lida diária e ainda assim, buscam formas de manter a família unida e ativa.
Considerando que as próprias relações de trabalho mudam com os novos tempos, precisamos entender que educar os filhos ganha uma dimensão potencial para transformações sociais desejadas, onde as conquistas coletivas serão valorizadas. Pensa-se hoje numa educação para o convívio em sociedade, que mobilize processos criativos, que respeite e valorize as diferenças; que inspire práticas colaborativas abertas ao diálogo, com novas formas de lideranças, mais justas, e com mais iniciativas empreendedoras.
 
TEMOS VALORES

A família insiste e testemunha a importância da confiança, do respeito, da honestidade, do caráter e da consideração pelo outro. Não se esquece que trabalho e estudo também são valores.

Beatriz sempre lembra à sua filha que ela deve se colocar no lugar do outro, principalmente nas situações de conflito. Acredita que este seja o valor mais importante de todos, pois é a partir dele que podemos nos relacionar com o outro e aprendemos a respeitar e a ser respeitado. Jacira ensina gentileza e respeito ao próximo. Diz que estas virtudes tornam a vida mais fácil e mais leve. Na casa de Nádia respeito e perseverança são indispensáveis. E, para Julia, honestidade e estudo não podem faltar!


EU SOU FAMÍLIA

Nádia tem três filhos, um de 4 anos que estuda na Escola Infantil Municipal, outro de 8 anos que está no 2º ano da Escola Estadual e uma menina de 12 que estuda na 8ª série de uma Fundação. Mora em uma casa de três andares onde antigamente era uma favela, mas agora foi regularizada. Faz diversas coisas para sobreviver: vende salgados, doces e bolos, roupas para cachorro, moletom e outras roupas que compra na 25 de março. É um trabalho que ela pode fazer em casa, perto dos filhos.
Guerreira, tem uma história difícil, de superação. Foi explorada pelo ex-marido, pai de seus filhos. Ficaram juntos por quinze anos. Ele era muito agressivo, batia nela e nos filhos, quase perdeu a guarda da filha mais velha por causa disso. Eles tinham uma lanchonete no térreo da casa que tiveram que fechar por conta das dívidas que o ex-marido fazia com agiotas, traficantes e bancos. Ela ficou com o nome sujo por dois anos. Quando descobriu que ele tinha outra mulher e que a traía havia muito tempo, tomou força para mandar o marido embora de casa. Sua lfiha chorou de felicidade com a separação. Foi aí que ela percebeu o quanto a relação era prejudicial para os filhos e o quanto ela tinha sido explorada e maltratada pelo ex-marido. Achava que casamento era assim mesmo.

NA CASA DE NÁDIA, RESPEITO E PERSEVERANÇA SÁO INDISPENSÁVEIS...
 
Chegou o dia que em não tinha mais dinheiro e nem comida. Teve um surto. Começou a fazer faxina em casa sem parar. Seu filho mais novo pediu para ela comprar bolacha e ela começou a chorar. Disse que não tinha dinheiro. O menino, então com 4 anos, respondeu: “Você tem dinheiro sim, tem as panelas, pode vender no ferro velho”. Foi o seu filho que mostrou o caminho para sua transformação. Levantou R$18,00 com a venda das panelas, comprou a bolacha para filho e material para fazer um bolo. Vendeu os pedaços do bolo e foi assim que começou a se levantar. Foi trabalhar como faxineira e tudo o que ganhava, vendia em algum lugar. Recolhia latinhas para vender. Aos poucos pagou as dívidas e hoje está com o nome limpo.

Pouco antes de se separar, sua ex-sogra a ajudou a se reconectar com sua fé. O que a fez sentir acolhida e esperançosa e a perceber sua força e tenacidade. Hoje tem paz em casa e no coração.

Toda esta mudança a aproximou dos filhos. Hoje a sua relação com eles é maravilhosa, tem muita confiança, sente que são mais unidos do que nunca. Estabeleceram várias regras de convivência: ter respeito uns pelos outros, saber esperar, ser atenciosos. A hora da conversa se tornou um dos momentos mais importantes na família, acontece a cada dois dias à noite. Nesta hora conversam de tudo, até de coisas que ela fala e eles não gostam. Nádia explica: “Primeiro eu tenho muita calma, a gente consegue tudo conversando com calma. Segundo eu dialogo bastante com eles e, terceiro, presto muita atenção no que eles falam e fazem. Conversamos sobre o que eles querem fazer, sobre a escola, sobre briga com os amigos, sobre ir ou não a uma festa, de um tudo. Este momento é muito precioso, não tem telefone e nem TV. Todos temos a chance de refletir se fizemos certo ou errado”.
Nádia conta que ca muito atenta ao que os lhos as- sistem e jogam. Não gosta de jogos com armas, então esses são proibidos. “Tem tantos outros, não precisam jogar estes”. Outro momento que considera importante é o dia de lazer em família, que acontece em finais de semana alternados. Costumam ir ao Parque Vila Lobos, ao cinema, ou comer pizza. Escolhem dependendo do dinheiro que têm. A decisão sempre é coletiva.
Apesar de ter os irmãos morando perto, Nádia conta mesmo é com uma vizinha. Ela a ajuda de várias formas, desde cuidar dos meninos até arranjar fregueses. Recebe pensão do ex-marido, mas a relação com ele é difícil. Não visita os filhos e pouco fala com eles. Ela gostaria que ele tivesse uma boa relação com as crianças. 


EU SOU FAMÍLIA

Nádia tem sua mãe como referência, “seu ídolo”, “sempre foi um modelo, uma guerreira”. Nunca esquece de seus ditos: “Mulher sofre até quando ela quer, vai até o fundodo poço, mas tem um limite”. “Escuta quem tem ouvido, obedece quem tem juízo”. “Use a cabeça para não perder a alma”. A educação que tenta passar para os filhos vem daí, do que sua mãe lhe ensinou. “Tento ser um exemplo. Minha mãe trabalhou até o penúltimo dia de vida, caiu doente e morreu”. Reconhece que o mundo mudou e tenta adaptar muitos ensinamentos de sua mãe, mas a base da educação está lá. Hoje tem celular, por exemplo, e monitora tanto onde a lha está como com quem ela fala no WhatsApp e no Facebook. Tenta dar muito amor aos filhos. A primeira coisa que fazem no dia é dizer um para o outro: eu te amo! Conta que foi uma coisa espontânea que surgiu depois da separação e acabou virando UM RITUAL DA FAMÍLIA. “Todo dia, quando meus filhos acordam, eu falo: bom dia, eu te amo! E eles devolvem: eu te amo também mamãe! E me dão um beijo. Eu adoro ouvir isto, e acho que eles também...”
Considera respeito e perseverança os valores mais importantes e por isso, não tem dificuldade em dizer não aos filhos. Sempre explica a razão do não. Às vezes, eles não entendem de imediato, então ela pede para eles sentarem e pensarem a respeito. A frase que mais usa é “Pelo amor de Deus, não faça isso!” Todos ajudam nas tarefas da casa, claro que de acordo com a idade. O menor adora ajudar, guarda a própria roupa no armário, varre o chão e leva a louça suja para a pia. Nádia diz: “todos nós usamos a casa, então todos nós cuidamos”. Os meninos participam de um projeto de futebol duas vezes por semana. Já a filha fica na escola em tempo integral e quer estudar inglês. Sonha com o futuro: em ampliar a casa, remontar a lanchonete e que os lhos continuem estudando e façam universidade.
EU SINTO...

A HISTÓRIA DE CADA FAMÍLIA É TECIDA PELO FIO DO AFETO. ESSA É A PRINCIPAL FORÇA QUE EXPLICA A PERMANÊNCIA DO NÚCLEO FAMILIAR AO LONGO DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE.
 
Manual da FamiliaEssa força, chamada afeto, promove um turbilhão de sentimentos que nos ensina, entre outras coisas, a nos importar com os outros, a amar e ser amado e a construir valores e projetos em comum. Mas esses sentimentos nem sempre são tão agradáveis. Às vezes experimentamos o medo, a tristeza, a raiva, o ciúmes, a frustração e a rejeição. Outras vezes a alegria, o carinho, a proteção, o acolhimento, a segurança e o amor.

Podemos dizer que ser parte de uma família é uma mistura de razão, emoção e ação, que interfere na maneira como Eu Sou!, Eu Sinto! e Eu Posso!. Enquanto o afeto dá liga à essa construção, seu alicerce são os valores, o imaginário e a cultura da sociedade em que vivemos.

O movimento dos afetos nos guia por caminhos diversos. É a paixão por um projeto em comum que mobiliza e envolve todos os familiares a escrever sua história. Quando perdemos a paixão pelo projeto comum, provamos o sabor da frustração e podemos até desacreditar da força e do significado da família.

Ser FAMÍLIA é um investimento diário de afeto, diálogo, tempo e dedicação!
A JORNADA DOS PAIS:
HERÓIS ANÔNIMOS DO COTIDIANO
Ser mãe ou pai é uma grande jornada de aprendizado: formar, cuidar e proteger...fazem parte desse processo. Todos fazem o seu melhor, na sua medida e com os recursos dos quais dispõem. Essa jornada no seio familiar se constrói todos os dias, nos erros e nos acertos, com base na própria bagagem cultural e informacional, com os próprios valores e crenças. Vivenciamos e aprendemos ao longo da nossa história.
 
 

Manual da Familia
Os arranjos e dinâmicas familiares nos conduzem muitas vezes a exercer papéis diversos e complementares daqueles tradicionalmente esperados.
Aprendemos com quem nos cria a cuidar do outro e aprendemos, também, com cada um dos nossos filhos. Toda experiência é única. Cada filho solicita um aprendizado novo e em cada família, e para cada um, este processo é diferente. O que funciona para uns pode não funcionar para outros e o que funciona em uma época pode não funcionar em outra.
Os cuidados desenvolvidos em família não obedecem a regras pré-estabelecidas e tampouco seguem um padrão. Eles são construídos no dia a dia em função das demandas familiares, e muitas vezes uns são priorizados enquanto outros são deixados de lado. Usam da exibilidade, intuição e bom senso. Isto quer dizer que o de- senvolvimento destes cuidados impõe, quase sempre, a necessidade de negociação, superação e adaptação.

O AFETO, EM SEU ASPECTO POSITIVO, COSTURA VÁRIOS VERBOS NO COTIDIANO FAMILIAR:
AMAR, ABRAÇAR, ACARICIAR, CUIDAR, AGREGAR, ALEGRAR, ABENÇOAR, AMAMENTAR, BEIJAR, COMPARTILHAR, COMUNICAR, CELEBRAR, CONFIAR, EDUCAR, ESTIMAR, EMOCIONAR, ESCUTAR, ENAMORAR, ENTREGAR, DIALOGAR, DANÇAR, GESTAR, RESPEITAR, SE RESPONSABILIZAR, PROTEGER, UNIR...
Um caldeirão de bons sentimentos e propósitos! Costura, também, outros verbos não tão agradáveis: frustrar, magoar, chorar, discordar, fracassar, errar, sentir medo, ter ciúmes, ignorar, trair, abandonar, ofender, agredir, invadir, desrespeitar... Ou seja, viver em família não é processo simples! A intimidade familiar se move como o vento: tem brisa, tem vendaval, tem vento frio, tem vento quente, ou ainda, não tem vento algum, por isso não é fácil. O vento oscila com frequência e quase sempre somos contraditórios.

NO COTIDIANO DA FAMÍLIA

O limite também estimula a criatividade. Quando a criança pode tudo, ou consegue as coisas no grito ela não precisa negociar ou criar estratégias para alcançar objetivos. Uma criança que tem hora pra dormir, por exemplo, precisar pensar em argumentos para convencer seus pais a deixá-la ficar acordada até mais tarde e assistir aquele desenho que todos os colegas de classe vão comentar no dia seguinte.

A atual relação entre pais e filhos é permeada por uma troca de experiências cada vez mais constante. Esta relação põe um novo acento no modo de educar. O diálogo, a negociação e a afetividade são a base deste processo. Houve uma dissolução da hierarquia rígida de outros tempos, hoje pais e lhos são mais amigos: uma relação de amizade onde amor, companheirismo e cumplicidade estão presentes, diferente da simetria comum nas relações entre os amigos.

Pais são os responsáveis pela formação e pelos cuidados de seus filhos, têm deveres e servem de exemplo. A hierarquia está presente para que a educação aconteça. Em momentos de descontração, de jogos, brincadeiras e descobertas em conjunto, esta hierarquia pode até se dissolver. No entanto, proteger e impor limites exige uma certa dose de autoridade. Quando quem cuida cede, os filhos perdem a chance de aprender a esperar, a controlar seus impulsos e a compreender e viver os limites da vida.1
1. Consuelo Carvalho de Araújo - 2012, pedagoga. http://amandarangelpsicopedagoga.blogspot.com.br/2012/06/amizade-entre-pais-e-filhos.html , 2012

"MEU FILHO FAZ BIRRA! EU NÃO SUPORTO E ACABO FAZENDO SUA VONTADE! OU LHE DOU UMAS BOAS PALMADAS E O MANDO REFLETIR NO QUARTO...”

 
Você já sentiu como é difícil colocar limites? Na maioria das vezes sabemos o que precisamos fazer, sentimos qual o caminho certo mas, na prática, adotamos atalhos que nem sempre nos levam ao lugar desejado e com isso nos frustramos.
Manual da Familia​​​​É preciso desenvolver a paciência e a esperança! Descobrir e aceitar os limites pessoais, familiares, sociais e exercitar a persistência. Os filhos sentem-se seguros quando há regras claras e coerentes. Sem regras, eles cam perdidos, desprotegidos. Por exemplo: hora para comer, hora para dormir, cuidados com a higiene e alimentação, tempo de brincar, tempo para estudar... são cuidados que garantem o bom desenvolvimento das crianças!

Dizer não e estabelecer limites é muito mais trabalhoso do que dizer sim e deixar acontecer. Em alguns casos, dizer sim aos filhos é mais que danoso, é perverso! Os pais não devem dividir sua responsabilidade sobre a formação dos lhos com os próprios filhos. Os pais devem saber proteger seus filhos das más escolhas e de perigos físicos e psíquicos. Os filhos confiam em seus pais para isso! 
Não é fácil ser duro com alguém amado quando sabemos na pele como é difícil receber um limite. Existe a culpa de negar ou chatear o filho depois de passar o dia inteiro longe, trabalhando. Sem falar que com cansaço da rotina, algumas vezes, parece mais fácil ceder à birra pra acabar com o choro. Os sentimentos, a rotina e as lembranças de cada um interferem na forma como educamos. É preciso respirar fundo e ter clareza dos passos que damos.
 
“ACHO MUITO DIFÍCIL DIZER NÃO PRAS MINHAS FILHAS. EU SÓ RECEBIA NÃO DA MINHA MADRASTA QUANDO ERA CRIANÇA, SEI COMO DÓI. TODA VEZ QUE TENHO QUE DIZER NÃO LEMBRO DISSO E PENSO BEM, MAS QUANDO PRECISA EU DIGO. TANTO QUE É A MIM QUEM AS MENINAS MAIS RESPEITAM LÁ EM CASA.”
Lena, 50 anos, atendente de padaria e mãe da Maria, 26 anos, da Laura, 17 anos e da Paula 11, anos.
 

2. Consuelo Carvalho de Araújo - 2012, pedagoga. http://amandarangelpsicopedagoga.blogspot.com. br/2012/06/amizade-entre-pais-e-filhos.html , 2012
A CRIANÇA DEVE APRENDER A SE RESPONSABILIZAR POR SEUS ERROS.
 
Primeiro ela tem que entender o que ela fez de errado. As noções dos filhos sobre o certo e o errado, sobre o bem e o mal, são resultado da atmosfera que respiram, bem como das instruções que recebem. Ou seja, de como os pais e a sociedade estão passando estas noções. Dar exemplo e servir de modelo para os filhos é essencial para que as mensagens sejam absorvidas e os valores apreendidos.
                                                                                                                                            Manual da Familia

E não adianta discurso e lição de moral. É necessário o testemunho, o exemplo, a conversa e o afeto. Difícil para os pais de hoje, pois se perdem na falta de tempo e na convivência com uma sociedade insatisfeita.

 
Manual da FamiliaTODA VEZ QUE TRATAMOS NOSSOS FILHOS COM RESPEITO FAZEMOS DELES PESSOAS RESPEITÁVEIS; SE TRATAMOS COM AMOR OS FAZEMOS AMÁVEIS; SE OS HONRAMOS FAZEMO-LOS DECENTES.

John M. Drescher, Quando seu filhos tem entre 6 e 12 anos, Editora Cristã Unida, SP, 1996

Os sentimentos nos trazem a sensibilidade para captar os fatos, o outro, os outros. As crianças são sensíveis para captar os acontecimentos ao seu redor, identificam e reagem as incoerências, reagem contra a injustiça e muitas vezes exigem impiedosamente de si mesmas e dos outros.

FILHOS PEQUENOS SÃO GUIADOS PELA IMITAÇÃO - O EXEMPLO É O MAIS IMPORTANTE! (DRESCHER, 1996)
PAIS, NÃO SEJAM E NÃO FAÇAM AQUILO QUE VOCÊS NÃO QUEREM QUE A CRIANÇA SEJA OU FAÇA. PAIS, ACEITEM SUAS FRAQUEZAS – SOMOS FORTES QUANDO ADMITIMOS NOSSA FRAGILIDADE. PAIS MUITO CONDESCENDENTES E QUE ESPERAM MUITO POUCO DOS FILHOS TAMBÉM SÃO PÉSSIMOS.
John M. Drescher, Quando seu filhos tem entre 6 e 12 anos, Editora Cristã Unida, SP, 1996

                              Manual da Familia
A IMPORTÂNCIA DA EXPRESSÃO DOS SENTIMENTOS NA CONSTRUÇÃO DE VALORES
SOMOS SERES COMPLEXOS. SENTIMOS DIFERENTEMENTE UNS DOS OUTROS E SENTIMOS MUITA COISA AO MESMO TEMPO. A PARTIR DO SENTIR, DEVEMOS RECONHECER OS NOSSOS SENTIMENTOS, ENTENDER SUAS ORIGENS, AVALIAR E SOMENTE DEPOIS AGIR, ESCOLHENDO E TOMANDO CONSCIÊNCIA DO QUE A NOSSA ESCOLHA IMPLICA E IMPACTA NO OUTRO. PRECISAMOS NOS PREPARAR PARA VIVER BEM, VIVER MELHOR. EQUILIBRAR O SENTIR E O AGIR É UM CONSTANTE EXERCÍCIO.  Augusto Cury, 2010.
 
Para Humberto Maturana (2013), “nem a ciência nem a tecnologia resolvem os problemas humanos, pois eles são todos de relação, pertencem à emoção. A partir dessa perspectiva, a convivência humana se baliza a partir da possibilidade de nos escutar e de nos respeitar nas discrepâncias.”
Vivenciamos uma diversidade de sentimentos no grupo familiar e aprendemos com eles a construir uma série de valores. Você já parou para pensar a respeito?

 
Aprendemos também a superar obstáculos e a ser perseverantes quando vivenciamos frustrações, fracassos ou culpas, quando não conseguimos enfrentar uma situação. Quando somos acolhidos nas nossas fragilidades e medos, aprendemos a ser solidários, a confiar e a contar com o outro na nossa jornada de vida.

Quando brigamos com um irmão, pai ou mãe, divergimos, ficamos com raiva, ciúme e às vezes explodimos. Mas quando nos reconciliamos, aprendemos a olhar para o outro como alguém singular, diferente de nós. Aprendemos assim a respeitá-lo, superar o conflito e muitas vezes a dominar os sentimentos explosivos.

Você já se surpreendeu com um abraço apertado do seu filho lhe dizendo: Não que triste, vai passar... repetindo aquilo que você fez tantas vezes ao socorrê-lo? Ou foi surpreendido ao ver um gesto de seu lho com o outro, oferecendo seu brinquedo para o irmão que está triste, por exemplo? Isto é processo de aprendizagem. A criança aprende com você a demonstrar que se importa com o outro. Valor extremamente importante na construção das relações saudáveis.
 
 
FAMÍLIA: LUGAR DE AFERO, PERDÃO E APRENDIZADO

"Arendemos uns com os outros nos encontros, nas trocas de afeto, nos cuidados, no dia a dia. Aprendemos a ser pai, a ser mãe, a ser filho, a ser irmão, a ser avô ou avó, estamos sempre aprendendo a ser. Por isso mesmo, não existe família perfeita, pais perfeitos, filhos perfeitos... estamos aprendendo a ser todos os dias, nos acertos e nos erros, permanentemente em construção. Mas a família pode ser um lugar privilegiado de afeto, onde aprendemos a amar e ser amados.

Nesse processo, muitas vezes nos machucamos e nos decepcionamos. E também machucamos e decepcionamos o outro. Não somos perfeitos. Mas podemos aprender a entender e perdoar, aprender com os erros. Alguns aprendem mais rápido, outros levam mais tempo. Compreender esse processo nos ajuda a superar mágoas, decepções e conflitos e também a aceitar o outro no seu processo de vir a ser. A família é também lugar de cuidados e implica uma série deles: gestar, alimentar, proteger, cuidar, educar, conviver, festejar... São cuidados que vão sofrendo alterações em decorrência do fluxo da vida cotidiana. Eles são regulados por relações subjetivas e afetivas construídas numa história comum e pessoal. Por isso mesmo, são processos únicos que sofrem transformações no decorrer da vida e trazem consigo, sempre, a possibilidade de ser reinventados."
                                   Manual da Familia
 
SENTIMENTOS SÃO IMPORTANTES

“Não devem ser abafados ou esmagados; devem ser revelados e aprimorados com base em valores! Os sentimentos se desenvolvem, se aprimoram ao longo da vida que se faz com os outros, no mundo e com o mundo. Nenhuma pessoa é uma ilha. Vive consigo mesmo e também com os outros. Por isso somos comunidade, povo, cidadãos. Nossa humanidade carece do outro.
Antes de tudo é preciso nos aceitar como somos. Entender por que nos sentimos de determinada maneira e saber o que fazer com esses sentimentos, isso é essencial para conquistarmos maturidade emocional. Deve ser um exercício diário ao longo da vida.
Quando nos aceitamos somos capazes de entender as pessoas que fazem parte da nossa vida. Precisamos entender seus sentimentos, por que elas se sentem como se sentem e o que devemos fazer em relação a isso. Essa percepção do outro é fundamental para convivermos.

Assim, primeiro trata-se de prestar atenção a si mesmo, em seu mundo interior para se conhecer e se aceitar. Na sequência, reconhecermos o outro, as pessoas que convivem conosco. Trata-se da importância de nos sintonizarmos com o outro, de termos empatia e sermos capazes de compreender a realidade alheia e de nos relacionar com essas realidades sob a perspectiva do outro.
É assim que damos um salto para reconhecemos o mundo a nossa volta. Neste movimento, é possível entender como você afeta o mundo e como ele o afeta.”
                                                                                                    Daniel Goleman, 2016 e 2014

 A família deve nos oferece um espaço seguro onde podemos experimentar e expressar verdadeiramente os nossos sentimos. Em família, ainda que haja conflito e distanciamento, continuamos sendo irmãos, lhos, primos. Os laços familiares não se rompem facilmente, diferentemente do que pode acontecer com vínculos de amizade ou de emprego.
O exercício de se mostrar, de ouvir, de perceber e aceitar a opinião do outro em um espaço protegido, como muitas vezes é a família, é fundamental para o desenvolvimento enquanto sujeito para o reconhecimento de si mesmo.
Os sentimentos são produzidos nas experiências de vida. Quanto mais diversi cadas as experiências que vi- vemos, mais nossos sentimentos se expandem para compreendermos a nós mesmos, aos outros e ao mundo.
VALORES DA FAMÍLIA! Manual da Familia
QUAIS SÃO? O QUE QUEREMOS?
           
TODOS NÓS QUEREMOS QUE NOSSOS FILHOS SEJAM PESSOAS AMÁVEIS, HONESTAS, INTEGRAS, SOLIDÁRIAS, COMPROMETIDAS, GENTIS E EDUCADAS.

A DIFERENÇA ENTRE ÉTICA E MORAL

A moral é um conjunto de valores que regulamentam a nossa conduta. Todos nós temos um código moral que aprendemos em casa e na sociedade em que vivemos.

São os valores construídos na família e na sociedade que definem as regras de convivência. São regras coletivas que aprendemos e que traduzem noções de justiça, ação, intenção, responsabilidade, respeito, limites, dever e punição, e que garantem a nossa coexistência. Desta forma, o bem e o mal nos aparecem como se fosse um semáforo que nos indicam o que é proibido e o que é permitido fazer.

Cuidar, proteger e educar, tão presentes no nosso cotidiano familiar, por exemplo, são também ações morais, pois exigem um posicionamento de quem as exerce: se importar e se responsabilizar ou não pelo outro. A moral é aprendida e exercida na relação entre os homens, ou seja, na relação “nós - tu - e - eu”. É na familia que aprendemos e exercitamos de forma mais profunda esse posicionamento moral. Os cuidados na relação familiar se expressam e adquirem uma dimensão específica para quem cuida, pois o outro depende de você, ele é concreto, ele está na sua frente e tem com você uma história comum e já partilhada. A relação de proximidade é que nos dá concretude e exige posicionamentos morais. (Mendes, 1995)

A ética não está dada, ela é construída no conhecimento do outro e em relação com o outro no mundo. A ética seria a busca pela melhor versão de nós mesmos, uma construção contínua através de nossas escolhas que questionam a moral do homem em relação à sua sociedade. Segundo Heller (1992) a ética envolve liberdade (valor universal).

Exige não apenas autonomia moral como liberdade pessoal, política, econômica, entre outros, como também o respeito pela autonomia moral de todos os outros. Ou seja, é na relação e na dimensão do outro para si que a ética surge. Leva um ser pensante a agir para além da sua cultura e seus valores morais: um exercício constante, um convite para a reflexão, um lugar de escolha, como se coloca, quais são seus princípios (caráter universalista), onde busca entender os sentidos dos valores, as causas e também as consequências das suas ações no mundo.

SOMOS AUTORES DA NOSSA PRÓPRIA HISTÓRIA
-ESTE É O DESAFIO-
QUAL É A HISTÓRIA QUE QUEREMOS CONTAR?

1. http://aquitem loso asim.blogspot.com.br/2007/11/filolosofia-moral-tica-e-moral.html
A ética não está dada, ela é construída no conhecimento do outro e em relação com o outro no mundo. A ética seria a busca pela melhor versão de nós mesmos, uma construção contínua através de nossas escolhas que questionam a moral do homem em relação à sua sociedade. Segundo Heller (1992) a ética envolve liberdade (valor universal).
Exige não apenas autonomia moral como liberdade pessoal, política, econômica, entre outros, como também o respeito pela autonomia moral de todos os outros. Ou seja, é na relação e na dimensão do outro para si que a ética surge. Leva um ser pensante a agir para além da sua cultura e seus valores morais: um exercício constante, um convite para a reflexão, um lugar de escolha, como se coloca, quais são seus princípios (caráter universalista), onde busca entender os sentidos dos valores, as causas e também as consequências das suas ações no mundo.

 
SOMOS AUTORES DA NOSSA PRÓPRIA HISTÓRIA -ESTE É O DESAFIO-
QUAL É A HISTÓRIA QUE QUEREMOS CONTAR?

1. http://aquitem loso asim.blogspot.com.br/2007/11/filolosofia-moral-tica-e-moral.html
 
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES SÓCIO RELACIONAIS
 


                                                             
Retomamos nos dias de hoje, com insistência e urgência, o desenvolvimento de competências sócio relacionais, necessárias para uma vida saudável nas complexas sociedades do século XXI. O desenvolvimento destas capacidades depende de famílias e comunidades, são fundamentais no processo educacional, nelas se expressam valores e atitudes como convivência, perseverança e pertencimento, molas necessárias para impulsionar os aprendizados. Ganhar confiança social e, sobretudo, auto confiança para partilhar e participar é essencial!

Quase sempre pensávamos que os desenvolvimentos cognitivo e intelectual de crianças e jovens eram suficientes para a inserção produtiva e social dos indivíduos. Mas essa premissa deixou de ser verdadeira. Cada vez mais precisamos igualmente das competências sócio relacionais para garantir o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens. Afinal, como conquistar atitudes e comportamentos fundamentais ao exercício da cooperação, da cidadania ativa e responsável, ao olhar tolerante e compreensivo junto aos nossos companheiros de viagem nesta fascinante e complicada vida no século 21?

Conquistar e exercer capacidades sócio relacionais implica em assumir valores. Valores esses, que por um lado, são ofuscados pelas sociedades complexas e globalizadas do mundo atual, e por outro, se fazem necessários à ação formativa, rompendo com o caráter meramente utilitário, conteudista e fragmentado de muitos dos aprendizados.
 
OS VALORES SÃO A MOLA PROPULSORA NA PRESENÇA E DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS SÓCIO RELACIONAIS. BASTA PERCEBÊ-LOS, OS VALORES ESTÃO AÍ! NOS RODEIAM E FUNCIONAM COMO JUÍZES DE NOSSAS ATITUDES
Já no século XX, a declaração dos direitos do Homem proclamada pela ONU ratifica direitos humanos ancorados em deveres sociais, políticos e cívicos. Os objetivos do nosso milênio, também da ONU, sinalizam para a solidariedade e o compromisso cívico com povos em situação de vulnerabilidade social, incluindo a sustentabilidade do planeta.1

Na antiguidade, Pitágoras falava em princípios morais: retidão de propósitos, tolerância na opinião, inteligência para discernir, clemência para julgar, ser verdadeiro em palavras e atos, simpatia e equilíbrio. A Bíblia, texto sagrado de inúmeras religiões, enfatiza as virtudes inspiradoras do comportamento humano: generosidade, temperança, diligência, paciência, caridade, humildade e perdão.

Fala-se muito a respeito dessas habilidades consideradas indispensáveis na formação de pessoas e que hoje, fazem parte da agenda das políticas de educação nacional e mesmo da grande mídia. Mas os valores são vistos como a base da convivência desde muito tempo. Desde os primórdios, nossa humanidade reflete sobre eles como um guia do comportamento humano.

Na família, na sociedade, na escola, na igreja, enfim, nos espaços coletivos, iniciamos uma formação em valores e aprendemos a lidar com nossas emoções e sentimentos e a exercitar as habilidades que chamamos de sócio relacionais, como gentileza, compreensão e persistência, que proporcionam a boa convivência, impulsionam o aprendizado e fortalecem o coletivo.Estudiosos contemporâneos apresentam uma lista expressiva de competências sócio relacionais que podem ser desenvolvidas em ambientes altamente colaborativos.

1. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Metas do Milênio da ONU
NÃO IMPORTA SE TEMOS UMA RELIGIÃO, O IMPORTANTE É REFLETIRMOS SOBRE MENSAGENS QUE COLOCAM EM PERSPECTIVA A NOSSA CONDIÇÃO HUMANA.

Estudiosos e formuladores de políticas educacionais falam sobre a necessidade de desenvolver competências sócio relacionais, ou ainda, agir numa das dimensões nobres da aprendizagem: aprender a ser!

SÃO OS VALORES QUE SUSTENTAM TODO ESTE ELENCO DE BOAS INTENÇÕES.

 
De quais valores e atitudes estamos falando ao nos referirmos sobre as competências sócio relacionais?
Não há suficiente consenso sobre o conceito de competência e sua tradução operativa... Pode ser definida como um saber fazer, com saber e com consciência em relação ao impacto desse fazer; um procedimento internalizado e em permanente processo de revisão e aperfeiçoamento, que permite resolver um problema material e espiritual; prático ou simbólico; fazendo-se responsável pelas conseqüências. (Braslavsky, 2000)
 
As competências sócio relacionais, em sua maioria, são interdependentes, ou seja, não caminham sozinhas e isoladas. Assim, por exemplo, a capacidade de convivência implica no reconhecimento do outro, depende de tolerância em relação aos outros, depende de auto aceitação e auto estima. As competências não são estanques, se articulam e se combinam em parte de seu conjunto.

Manual da Familia
Outra questão importante é que as competências sócio relacionais estão integradas às competências cognitivas; exigem uma compreensão e interiorização cognitiva e não apenas sócio afetiva. Por exemplo, a disciplina e persistência no aprendizado dependem igualmente de uma aderência cognitiva em seu aprimoramento e fortalecimento. O conhecimento permeia as habilidades, proporcionando que, a partir da vivência e da experiência pessoal, as habilidades se consolidem dentro de nós, assim como os valores: nos reconhecemos a partir do outro e também a partir das nossas atitudes e das nossas escolhas diárias.

Todas essas competências são predisposições que exigem exercício pessoal, ambiente e valores. Dependem de processos formativos; não bastam receitas, exigem compreensão e adesão profunda. A aprendizagem destas competências se inicia no cotidiano e na convivência familiar. Observa-se a importância do papel da família!

A SEGUIR, AGRUPAMOS AS COMPETÊNCIAS SÓCIO RELACIONAIS. NO ENTANTO, VOLTAMOS A LEMBRAR QUE ELAS SÃO INTERDEPENDENTES, OU SEJA, É QUASE IMPOSSÍVEL DESENVOLVER UMA HABILIDADE DE FORMA ISOLADA, SEM QUE HAJA O DESENVOLVIMENTO DE UM PUNHADO DE OUTRAS COMPETÊNCIAS :


A COMUNICAÇÃO

A comunicação está presente nas nossas relações e permeia a nossa vida social, nas conversas familiares, num abraço afetuoso com o filho, no olhar de reprovação para um irmão, no nosso trabalho, nas trocas de receitas com amigas, enfim, em todas as interações sociais contidas no nosso cotidiano. Comunicar é a capacidade de trocar pensamentos, ideias, sentimentos ou informações por meio da fala, de gestos e imagens.
                       

Manual da Familia É um processo que envolve portanto duas os mais pessoas; sendo a forma mais básica das pessoas se relacionarem entre si, construindo e modificando novos conceitos e interações relacionais. Isto significa que, a comunicação envolve reciprocidade e gentileza no olhar de quem fala e também de quem escuta. Não é um algo fácil, pois envolve outras linguagens: corporal, tom de voz, tempo, as palavras que utilizamos para transmitir a mensagem. Uma boa comunicação implica portanto, em que uma pessoa fale claramente para que a outra pessoa possa entender aquilo que o outro quis dizer. Algumas vezes ficamos na defensiva e achamos que estamos entendendo o que o outro está falando, mas na verdade, nos precipitamos e deixamos de escutar. Outras vezes, não entendemos a mensagem e temos receio de perguntar. É necessário vencer a timidez e dar um passo em direção ao outro: fazer um investimento. Temos que ter interesse em que a mensagem que se quer trocar chegue sem muitos ruídos, pois esta é a questão crucial da comunicação. Ninguém é igual, nem percebe e sente a mesma coisa sobre algo. Não é a toa que muitas questões levam a um diálogo mais longo para se chegar a um lugar comum, a um entendimento. Como já dizia o velho guerreiro Chacrinha: Quem não se comunica, se estrumbica! Gentileza e respeito são essenciais para a boa comunicação. Quando estamos exaltados e falamos com a voz alta e uma expressão brava, a mensagem pode até ser boa e importante, mas a forma, totalmente errada. Comprometemos o entendimento do outro, já que este assume uma posição defensiva e passa a ter problemas na escuta, confundindo a sua mensagem. Já parou para pensar nisto?

Devemos estar atentos também no tempo certo onde a boa comunicação pode acontecer. Com pressa ou com humores não muito favoráveis, vale reconsiderar sobre o momento da conversa.

Outra questão: é importante se colocar no lugar do outro para poder compreender a sua forma de ver e sentir, isto com certeza dartá dicas sobre a melhor forma de transmitir uma mensagem. Como pais, a forma mais legitima de se comunicar com filhos se dá pela verdade, colocando sinceridade e despindo-se de intenções escondidas. Uma fala direta e clara segue construindo junto aos filhos um canal de comunicação de fluxo contínuo sem muitos ruídos. Os filhos aprendem não apenas sobre as mensagens transmitidas, mas também, sobre os próprios pais. Assumi-se que cada um de nós possui uma verdade parcial, nunca absoluta, e isto é o que se pode oferecer aos filhos. Com tempo, filhos adquirem seus filtros e apreendem as mensagens de acordo com suas próprias referências e vivências.
                                                   
Somos diferentes, vivemos em ambientes e realidades distintas, possuímos a nossa individualidade, por isso, apesar do exercício comum da escuta e da comunicação aberta, cada família constrói sua própria forma de se comunicar, traz um jeito que lhe é peculiar.

“QUANDO MEU FILHO QUESTIONA SOBRE UMA DECISÃO MINHA EU EXPLICO: - FILHO, COMO SUA MÃE É MINHA OBRIGAÇÃO FAZER AS MELHORES ESCOLHAS USANDO O MEU MELHOR JULGAMENTO PARA ESTE E AQUELE MOMENTO, FAZENDO USO DA INFORMAÇÃO A QUE TENHO ACESSO. TE PROMETO BUSCAR SER ACERTIVA E REUNIR TODAS AS INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA PODER ESCOLHER. LEMBRANDO QUE COMO SUA MÃE, AS MINHAS DECISÕES VÃO REPRESENTAR AQUILO QUE EU ACREDITO E CONHEÇO. ELE CONFIA QUE EU SOU RESPONSÁVEL E CONSCIENTE - SEJA NO ERRO OU NO ACERTO.”
Sofia, 45 anos, arquiteta e mãe do Rafael, 15 anos e da Gabriela 12 anos

Ao longo dos anos, muitas vezes filhos e pais discordam sobre algumas questões, é natural. Mas a partir do respeito mútuo e do entendimento de direitos e deveres de cada parte, são capazes de manter a boa comunicação e o entendimento mútuo. Este entendimento do outro é um exercício em família de empatia.
 
“EU E MEU FILHO TEMOS POSICIONAMENTOS MUITO DIFERENTES EM RELAÇÃO A VÁRIAS COISAS, NOSSAS CONVERSAS SÃO LONGAS E APAIXONADAS, MAS SUPER RICAS. NESTAS CONVERSAS APRENDO MUITO COM ELE, E ACREDITO QUE ELE COMIGO, POIS MUITAS VEZES CHEGAMOS EM OUTRO LUGAR, QUE NÃO É O MEU PONTO DE VISTA NEM O DELE, MAS UM OUTRO QUE TRANSFORMA O MEU OLHAR SOBRE AQUELA QUESTÃO. É UMA DELICIA!”
Mônica, 59 anos, assistente social e mãe do Francisco, 28 anos e do Marcelo, 26 anos
• Ter empatia
é sentir compaixão, solidarizar-se, saber se colocar no lugar do outro para entender melhor o que outro sente. Muitas vezes, nós não nos damos conta do quanto isso é importante. Se colocar no lugar do outro é exercitar o amor ao próximo, é essencial para o convívio e a coexistência em sociedade. Praticamos e vivenciamos a empatia no seio familiar quando nos momentos de fragilidade, escutamos o outro nas suas dificuldades e o acolhemos. Esta situação é recorrente. Você já parou para pensar nestes momentos? Querer o bem para os outros e respeitá-los é também querer o próprio bem.

“OUTRO DIA, MINHA SOBRINHA DE TRÊS ANOS ME VENDO TRISTE CORREU PARA ME ABRAÇAR E DISSE: TIA NÃO FICA TRISTE, EU ESTOU AQUI. FIQUEI EMOCIONADA COM ATITUDE DAQUELE BEBÊ TOMANDO ESTA ATITUDE ESPONTÂNEA, JÁ DESDE PEQUENA PRATICANDO A EMPATIA.”                                      Mônica, 59 anos, assistente social e mãe do Francisco, 28 anos e do Marcelo, 26 anos.
 
 
• A cooperação acontece quando ajudamos os outros a alcançar um objetivo coletivo comum, para sermos cooperativos devemos estar disponíveis para compartilhar tarefas, trabalhar em grupo, participar com responsabilidade em atividades em prol do coletivo. É uma habilidade muito importante para se desenvolver plenamente, pois nos prepara para viver em sociedade, produzindo e conquistando com a participação coletiva. É preciso uma boa dose de autoestima, se sentir importante e ao mesmo tempo reconhecer a importância de cada integrante do grupo. Mais uma vez, investir numa boa comunicação, ter respeito e ser gentil ajudam muito. Importante também é saber alternar posições de liderança e de ser liderado quando for preciso, reconhecer e obedecer regras do coletivo, ajudar o outro e levar em consideração as opiniões de outras pessoas. Em casa, aprendemos a cooperar ao compartilhar os afazeres; a obedecer regras, a assumir deveres e tarefas em grupos; liderar com boas ideias, respeitar o que é do outro (dos irmãos, por exemplo); e aprender a tomar decisões de maneira responsável.

• A sociabilidade exige uma postura de abertura para o outro. Ter reciprocidade e empenho em incluir os outros nas atividades, nas conversas, nos grupos, na sua vida. Se abrir para que outro se aproxime, te conheça e aprenda sobre você. É também fazer amizades, apresentar-se aos outros, não ter medo da exposição. Pensar de forma positiva e ser otimista ajuda muito, porque nos tira de uma pre-indisposição. Quando estamos otimistas, arriscamos nos relacionar a partir da melhor versão de nós mesmos, aquela que acredita, confia e acolhe o outro.

• O auto controle implica em saber reconhecer e controlar suas emoções, sem deixar de sentir ou deixar de viver, mas também sem se entregar inteiramente ao turbilhão e seguir agindo de forma desgovernada. Para exercitar o auto controle escolhe-se por um comportamento mais apropriado, respeitoso, pacífico e relaxado. Se conhecer é essencial, reconhecer as emoções que tomam conta e também, temos que escolher agir apesar delas e não a partir delas. A experiência de vida ajuda muito, aprendemos com os nossos erros a o observar que algumas reações comprometem a qualidade das relações e da comunicação. Antes de mais nada, ter consciência, aceitar limites, conviver com frustrações, ter calma (ou ao menos buscar exercícios e pensamentos que tragam de volta a tranquilidade e sensação de calma), ter resiliência e principalmente saber avaliar as situações (de novo a experiência de vida ajuda a quem se coloca para aprender). Na família e nas relações cotidianas aprendemos a desenvolver o nosso auto controle e contamos com o amor e compreensão para ir ajustando e reconhecendo aonde precisamos melhorar. O ambiente familiar protegido é o lugar mais potente para exercitar o nosso auto controle.

• Confiança é acreditar em si mesmo e no outro, é conhecer seus limites e reconhecer-se como uma pessoa em construção, é ter foco, é se sentir capaz de agir de uma certa maneira perante uma determina situação. Tem tudo a ver com auto controle, auto estima e respeito. É ter consciência de que se pode errar e de que o erro faz parte do seu processo de aprendizagem.
• A autonomia se conquista ao longo dos anos, assumindo aos poucos responsabilidades e adquirindo a capacidade de tomar decisões para sua vida, assumindo suas próprias escolhas. Ela surge com as iniciativas, com atitudes de independência, quando já não se depende de ninguém para uma atividade (saber amarrar seu sapato, tomar banho sozinho, se limpar direitinho sem ajuda de um adulto, lembrar de escovar os dentes, se responsabilizar sobre seus pertences, cuidar de sua lição de casa...) ou de um comando ou ordem de um adulto para sequer iniciá-las. Como se diz por aí - É andar com as próprias pernas.

Autonomia também é assumir responsabilidades sobre suas escolhas e decisões de vida, apropriando-se de conhecimentos e habilidades para agir com confiança. É um processo em permanente construção, que se inicia no nascimento quando estamos totalmente dependentes e vai gradativamente avançando com os aprendizados no cotidiano familiar. Isto quer dizer que nossas escolhas e decisões estão em permanente construção e reconstrução em função daquilo que aprendemos e percebemos como sendo a melhor opção na nossa trajetória de vida. Fazemos escolhas erradas, e isso faz parte do nosso aprendizado, crescemos e nos tornamos responsáveis até mesmo por vias equivocadas, para então aprendermos e decidirmos melhor nas futuras decisões. Numa educação de afirmação (positiva) a autonomia deve ser incentivada e não reprimida, como em alguns casos acontecem. Quando filhos ainda não estiverem maduros ou capazes para tomar sozinhos alguma decisão ou concluir uma tarefa sem auxílio dos pais ou adultos, não se deve desmerecer ou desautorizar, e sim conversar, explicar, orientar e acompanhar. Isto porque haverão casos onde a AUTONOMIA faz divisa com o descuido, e não queremos isso. Por exemplo, pais são responsáveis pela saúde dos filhos e para isso devem garantir que eles se alimentem de forma saudável, educando, orientando e colocando regras para a boa alimentação.

Não é um processo fácil, pois precisamos dar liberdade de escolha ao outro e muitas vezes nos sentimos inseguros em fazê-lo. Isso significa reconhecer e respeitar a escolha e decisão dos nossos filhos que muitas vezes são contrárias à nossas, salvo casos onde as escolhas coloquem os filhos em perigo. Queremos sempre protegê-los, mas esta não é uma atitude emancipadora. Por isso é importante criarmos um ambiente aberto ao questionamento para os filhos, convocando-os a reflexão, incentivando sua curiosidade, a construindo conhecimento com responsabilidade para que eles sejam capazes de fazer boas escolhas.

 
OS SENTIMENTOS SÃO COMPLEXOS. MEDO, FRUSTRAÇÃO E ANSIEDADE NOS FAZEM SENTIR MUITAS VEZES INCAPAZES, IMOBILIZADOS E DESPREPARADOS PARA ENFRENTAR UMA SITUAÇÃO. CORAGEM, CALMA E ACEITAÇÃO AJUDAM A SUPERAR ESTAS SITUAÇÕES E NOS COLOCAM DE VOLTA NA BUSCA DOS NOSSOS OBJETIVOS.
“MINHA FILHA VINHA SEMPRE ME PEDIR AJUDA NAS LIÇÕES DE CASA, PEDIA PARA EU AJUDAR A ENCONTRAR AS RESPOSTAS, MAS QUANDO EU LIA AS PERGUNTAS E PERCEBIA QUE EU MESMA TINHA DIFICULDADE PARA ENTENDER O QUE SE PEDIA, PERCEBI QUE O QUE A ESCOLA QUERIA ERA ENSINAR AS CRIANÇAS A PENSAR E A DESCOBRIR POR SI MESMAS OS CAMINHOS PARA OBTER OS RESULTADOS - SABER COMPREENDER UM TEXTO É ESSENCIAL PARA A VIDA ADULTA, SEJA PARA PREENCHER UM FICHAMENTO, SEJA PARA RESPONDER UM EMAIL. POR ISSO FALEI PRA ELA QUE EU NÃO PODERIA FAZER ISSO POR ELA, PORQUE EU JÁ SABIA, MAS ERA A VEZ DELA APRENDER A PENSAR. FALEI PARA ELA SEMPRE TIRAR AS DÚVIDAS NA AULA, COM OS PROFESSORES. HOJE ELA VAI SUPER BEM, CONQUISTOU AUTONOMIA E OS PROFESSORES SÓ FAZEM ELOGIAR. ELA CONQUISTOU ISSO SOZINHA!”
Sofia, 45 anos, arquiteta e mãe do Rafael, 15 anos e da Gabriela 12 anos.
 
• A persistência nos ajuda a atingir um objetivo, a enfrentar os obstáculos. Demanda esforço e investimento de tempo e energia, desta forma, aprende-se também a ser resiliente, ter fé e não “entregar os pontos”, “jogar a toalha”. É confiar que as coisas se conquistam, são realizadas com empenho constante, conhecimento e entendimento da situação. Partindo do térreo pra chegar ao último andar, não tem muita mágica (nem elevador), é necessário subir degrau por degrau, vencer andar por andar, um após o outro para alcançar o topo. Na vida, devemos ter consciência de que o percurso percorrido é tão ou mais valioso do que o objetivo alcançado, é por ele que nós aprendemos. Afinal, vivemos o caminho, aprendendo sobre como as coisas funcionam, sobre opções que vão surgindo e, principalmente, aprendemos sobre nós mesmos. E a disciplina opera ao nosso favor! Disciplina e determinação, superam qualquer talento. Com disciplina se cumpre qualquer tarefa, até mesmo as mais chatas. Nunca deixe que a preguiça, o desânimo, as dificuldades, a descrença dos outros te impeçam de seguir seu plano.

Por outro lado, é importante reavaliar usando novas informações que surgem no caminho se o plano é real, se vale a pena insistir. Os pais têm papel primordial como referência de persistência, resiliência e tolerância. Podemos fazer isso ao incentivar sonhos e ideias, valorizar cada esforço e cobrar comprometimento.

 
     Manual da Familia
• A consciência é a capacidade de se reconhecer, de examinar a si mesmo, de ter a percepção daquilo que se passa dentro de si mesmo e ao seu redor. Através da consciência pode se identificar o contexto de cada coisa e de cada problema (esta parte subjetiva da consciência). Usamos a nossa intuição, a nossa sensibilidade, deduzimos e entendemos para termos consciência. Porque consciência é conhecimento, é compreensão, é também o processamento das nossas vivencias durante a própria experiência, é saber distinguir o certo do errado e entender os ambientes, para podermos então decidir sobre a forma mais apropriada de agir. Pela consciência somos capazes de desenvolver o controle interior do nosso comportamento.
 
SUGESTÕES E EXPERIÊNCIAS DE FAMÍLIAS

• ABERTURA AS EXPERIÊNCIAS E SOCIABILIDADE
Desde pequeno, deixar a criança caminhar por pequenos trajetos de mãos dadas, no lugar de carregar a criança ou empurrá-la num carrinho.

• AUTONOMIA, AUTO ESTIMA, CONFIANÇA
Deixar que a criança assuma as responsabilidades perante a escola, cumprindo suas tarefas.

• COMUNICAÇÃO E RESPEITO
Esperar que o adolescente se responsabilize pela comunicação frequente com os pais, passando informações sobre seu dia.

• AUTONOMIA, CONSCIÊNCIA, RESPEITO E RESPONSABILIDADE
Permitir que a certa idade os filhos possam fazer passeios sozinhos, instruí-los da melhor forma para que eles possam “se virar”.

• PERSISTÊNCIA, AUTO ESTIMA, AUTO CONTROLE E PACIÊNCIA
O exercício de fazer por merecer é um ótimo aliado para educar. Com ele aprendemos a valorizar o processo, o meio e não apenas o fim. É mais importante aprender a fazer uma boa pesquisa do que ter a resposta pronta.


Manual da Familia
“NÃO GOSTO DE IR NAS REUNIÕES NA ESCOLA DOS MEUS FILHOS. COMO NUNCA COMPLETEI OS ESTUDOS, ME SINTO ATÉ ENVERGONHADA DE PARTICIPAR. OUTRO DIA, MINHA FILHA MAIS VELHA, QUE ESTÁ NO ÚLTIMO ANO DO FUNDAMENTAL, ME DEU UMA BRONCA DIZENDO QUE EU E MEU MARIDO NUNCA PARTICIPAMOS DE NADA E QUE ELA GOSTARIA MUITO DE MOSTRAR OS TRABALHOS QUE TEM FEITO NA ESCOLA.”
Edileuza, 43 anos, dona de casa

O QUE TE MOTIVA A SE ENVOLVER NA EDUCAÇÃO DE SEUS FILHOS?
E O QUE TE DESENCORAJA?

Reflita com o coração e entenda que muitas vezes o que o desencoraja pode não ter tanto poder assim. Os obstáculos devem ser desafiados!

O QUE VOCÊ DIRIA PARA EDILEUZA?
Edileuza, você pode não ser letrada, mas no que diz respeito a vida, ao amor, à esperança e à dedicação, você é a grande autora! Tenha orgulho de tudo que você já conquistou e não se apequene. Vá lá, se exponha, escute, procure saber o que sua filha tem produzido na escola, reflita e, do seu modo, coloque sua opinião, faça valer suas crenças. Você pode! E esse é o melhor exemplo que pode dar à sua filha.

Vamos adotar nossa família como um espaço de convívio, um espaço de trocas e um lugar de exercício contínuo do diálogo. A família é nosso lugar de aprendizagem, de reconhecimento e (por que não?) lugar de diversão, lazer e felicidade.

Manual da Familia

REFLEXÕES
“TEMOS MUITAS FAMÍLIAS, HAVIDAS E SONHADAS. SÃO AS NUVENS SOBRE A ALMA, AS ESPUMAS DO MAR VAMOS PISANDO (...).”
Cecília Meirelles
 
“HÁ QUEM VIVE COM TODA FAMÍLIA: PAI, MÃE, IRMÃOS, TIOS, AVÓS; EXISTEM PAIS SEPARADOS CUJOS OS FILHOS MORAM SÓ COM A MÃE OU SÓ COM O PAI; HÁ ÓRFÃOS QUE VIVEM COM PARENTES OU INSTITUIÇÕES; HÁ FILHOS ADOTIVOS, FAMÍLIAS NUMEROSAS E PEQUENAS. ENFIM, FAMÍLIA SÃO PESSOAS AO NOSSO LADO, QUE NOS ORIENTAM, QUE TORCEM POR NÓS... E COM QUEM PODEMOS CONTAR. E SUA FAMÍLIA COMO É?”
Manual da FamiliaEU POSSO

EM CADA HISTÓRIA QUE CONHECEMOS, DE FAMÍLIAS COM ORIGENS TÃO DISTINTAS, IMPOSSÍVEL FOI DEIXAR DE RECONHECER O PODER DE CADA UMA. EM CADA UMA DESSAS FAMÍLIAS HABITA A POTÊNCIA CAPAZ DE TRANSFORMAR POSITIVAMENTE SUA VIDA.

A família tem força!
E esta força se expande para a comunidade e sociedade em que vive.
Ela é um caminho poderoso de sobrevivência e existência humana até porque tem autoridade moral reconhecida pela sociedade.

A CRIAÇÃO É UMA PARTICULARIDADE DA FAMÍLIA, ELA SE MULTIPLICA.
E TEM CAPACIDADE DE SE REINVENTAR!
Manual da Familia
FAMÍLIA TEM POTÊNCIA!

Esta potência é construída na intimidade afetiva de todo dia e em um projeto comum. Corre por todas as entranhas da intimidadeManual da Familia, propósitos, talentos e relações. Uma das potências da família é a disponibilidade e abertura incondicional.

Muitos dizem que ela é nosso “porto seguro”: sempre podemos contar com ela, a ela revelar nossas fraquezas e humores, e por ela, sermos acolhidos... A família é o nosso refúgio.

A abertura incondicional da família possibilita o constante exercício das nossas expressões e interesses num ambiente de proteção. É uma porta preciosa e sempre aberta ao nosso desenvolvimento, nossa formação. Nela, cada um pode ter seu jeito, expressar seu humor peculiar, expor seus argumentos, exercitar sua autonomia e experimentar funções diferentes.

Porque na família, a gente transita em múltiplos papéis. Sabe aquela irmã mais velha que cumpre o papel de mãe? Ou o tio que é um verdadeiro pai? E o irmão mais velho que só arruma confusão? Essa diversidade nos fortalece para o bem e para o mau.

Sabe aquele irmão que gosta de ser vítima em toda situação que enfrenta e que escolhe ser dependente? Ou aquele filho perseverante que estuda, cumpre suas obrigações? Ou aquele que é quase sempre egoísta e pensa só nele? O preguiçoso ou generoso? Aquele que impõe ou compartilha, faz amigos ou se retrai na timidês? Aquele que gosta de conversar, dançar, cantar ou se “emburra rápido, criando briga” ?
Pois esta diversidade é rica e educa.
                                                                                            
E ESTA É A QUESTÃO!
A ABERTURA INCONDICIONAL NO SEIO FAMILIAR NOS LIBERA PARA CONSTRUIRMOS CAMINHOS DE EMANCIPAÇÃO OU CAMINHOS DE NEGAÇÃO.

Eu posso! Esta é a grande potência da família.

A família é o lugar de aprendizado dos valores, da cultura que nos toca a viver, das emoções, das expressões, das habilidades e capacidades. Avançamos nestes aprendizados aos poucos. Um passo de cada vez, um dia após o outro, adquirindo hábitos que transformam e educam e, com eles, novas habilidades.

No acúmulo desses aprendizados, às vezes, damos saltos de coragem e fazemos mudanças radicais, que vão ao encontro de uma vida mais íntegra, solidária e cidadã.

Esses aprendizados não seguem um currículo padrão e único. Ao contrário, e esta é mais uma das riquezas e especialidades da família, segue o currículo da vida - onde todos, pais e filhos são aprendizes. Este aprendizado se faz na ação: pais aprendem a ser pais, e, sendo pais buscam promover o desenvolvimento dos seus lhos a cada dia. Seguem o método natural dos erros e acertos de todos os dias, usam do testemunho, da convivência e da experiência. E neste processo virtuoso vão ganhando potência.

Nós somos força e potência! Somos cada membro da família e temos a responsabilidade de assumir o projeto comum. Individualmente, temos a oportunidade de aproveitar a segurança e abertura incondicional da família para nos desenvolver.
Como filhos, por exemplo, podemos exercitar o diálogo, a paciência, o auto conhecimento, ao invés de nos trancar no quarto e nos eximir do papel de renovar tradições e questionar padrões, de bater de frente e reclamar por não ter escolhido nascer.

Como pais, podemos exercitar o auto controle, a comunicação, a expressão de sentimentos e o olhar para nossas próprias atitudes, além de buscar uma relação de parceria e colaboração com outros agentes educadores na escola e na comunidade. Podemos encarar a escola, os pediatras os psicólogos, as pessoas que nos auxiliam nos cuidados
com nossos lhos, como aliados, parceiros de um grande trabalho conjunto, ao invés de delegar responsabilidades.
Toda a sociedade educa.
Como irmãos, podemos ser exemplo, acolher, desenvolver a solidariedade, a amizade ao invés de excluir, intimidar e provocar.

Ser parte de uma família exige esforço individual e contínuo. É preciso assumir na e com a família. E mais que isso, assumir a potência de tornar a nossa família um espaço cada vez mais gostoso de acolhimento e aprendizado.

NO ACÚMULO DESSES APRENDIZADOS, DEVEMOS TER CORAGEM PARA FAZER AS MUDANÇAS ESSENCIAIS, QUE VÃO AO ENCONTRO DE UMA VIDA MAIS ÍNTEGRA E SOLIDÁRIA.

Manual da Familia
          
VAMOS EXPLORAR ALGUNS DESSES MODOS DE APRENDIZADO?

Manual da Familia
1. ABRAÇOS
Não vamos fazer economia, eles ensinam e nutrem. Convide alguém para um abraço prolongado, se entregue e per- ceba: como você se sente? Inquieto, acolhido, tenso, confortável, em paz, tranquilo, protegido?
Um abraço bom é aquele que permanece.

2. ERROS E ACERTOS
Aprendemos com eles a superar dificuldades e a reconhecer que para cada escolha existe um caminho a ser percorrido.

“MEU FILHO MAIS NOVO NUNCA GOSTOU DE ESTUDAR, ERA UMA BRIGA EM CASA TODOS OS DIAS PRA FAZER ESSE MENINO IR PARA ESCOLA. ATÉ QUE CHEGOU UM DIA E EU DISSE QUE, SE ELE NÃO QUERIA ESTUDAR, TINHA QUE TRABALHAR. COMECEI A LEVAR ELE COMIGO PRA ME AJUDAR NAS OBRAS QUE TOCO. O PROBLEMA É QUE LOGO ELE CANSOU DE ME ACOMPANHAR, DIZIA QUE QUERIA GANHAR MAIS PRA COMPRAR AS COISAS DELE. AÍ, EU DISSE QUE SE ELE QUERIA CONQUISTAR MAIS COISAS NA VIDA, PRA ISSO, ELE TERIA QUE ESTUDAR. DEU DOIS MESES, ELE ENTROU NO SUPLETIVO E AGORA ESTÁ TENTANDO UMA VAGA NUM CURSO TÉCNICO.”
Toninho, 48 anos, mestre de obra e pai do Pedro, 19 anos e do João, 13 anos

Errar faz parte... Você consegue reconhecer o próprio erro e aprender com ele?

3. TEMPO ESPECIAL

Dedicar um tempo especial uns aos outros em família. Tempo de escuta, tempo de conversa, tempo de espera, tempo de colheita, tempo de mágoa, tempo de reconciliação, tempo dos cuidados e tempo do perdão.
O TEMPO

A VIDA É O DEVER QUE NÓS TROUXEMOS PARA FAZER EM CASA. QUANDO SE VÊ, JÁ SÃO SEIS HORAS!
QUANDO SE VÊ, JÁ É SEXTA-FEIRA!
QUANDO SE VÊ, JÁ É NATAL...
QUANDO SE VÊ, JÁ TERMINOU O ANO...
QUANDO SE VÊ, PERDEMOS O AMOR DA NOSSA VIDA.
QUANDO SE VÊ, PASSARAM 50 ANOS!
AGORA É TARDE DEMAIS PARA SER REPROVADO...
SE ME FOSSE DADO UM DIA, OUTRA OPORTUNIDADE, EU NEM OLHAVA O RELÓGIO.
SEGUIRIA SEMPRE EM FRENTE E IRIA JOGANDO PELO CAMINHO A CASCA DOURADA E INÚTIL DAS HORAS... SEGURARIA O AMOR QUE ESTÁ À MINHA FRENTE E DIRIA QUE EU O AMO...
E TEM MAIS: NÃO DEIXE DE FAZER ALGO DE QUE GOSTA DEVIDO À FALTA DE TEMPO.
NÃO DEIXE DE TER PESSOAS AO SEU LADO POR PURO MEDO DE SER FELIZ.
A ÚNICA FALTA QUE TERÁ SERÁ A DESSE TEMPO QUE, INFELIZMENTE, NUNCA MAIS VOLTARÁ.
Mario Quintana
Manual da Familia4. CONVERSA
Nossa sugestão para uma boa conversa:
• Reserve um tempo.
• Quantas pessoas estarão nessa conversa? 1? 2? 3?
Coloque todo mundo junto.
• Comece a trocar as ideias. Traga as coisas mais simples. • Escute os outros e você mesmo.
• Entregue-se nas trocas e deixe uir.
• Esteja presente, viva o “aqui e agora”.
Dica para o tempero: Aproveite as oportunidades do
momento. Pequenas conversas também são importan- tes e ajudam a cuidar das relações.
E você? Qual sua receita para uma boa conversa?
5. ESPAÇO PÚBLICO

Experimente caminhar pelos espaços da cidade e reconheça os lugares que têm significado para você.
É importante circular pelos espaços públicos com os filhos: pelo bairro, pela cidade, pela casa de vizinhos, de amigos e parentes. Circulando pelos espaços da cidade, podemos observar e reconhecer as diferenças, descobrir as diferentes formas de cada um ocupar os espaços, seja numa feira livre, num campinho, numa roda de brincadeiras, num parque, num banco de praça, num beco ou viela, na sombra de uma grande árvore... Quando circulamos atentos ao que está a nossa volta, tudo passa a ser aprendizado! Ao circularmos e convivermos no espaço público, passamos a fazer parte dele: quem habita as cidades e ocupa os espa- ços públicos passa a ser co-criador desses espaços, ressigni cando e atribuindo a eles seu valor.
Vamos conhecer a cidade?
 
Manual da Familia6. OPORTUNIDADES
Oportunidades aparecem a todo momento. É preciso observar e estar aberto para reconhecê-las, estar presente nas experiências e aprendizados do cotidiano. É no correr da vida que nos deparamos com coisas e situações transformadoras, que batem no coração, que fazem a vida vibrar. Pais e cuidadores devem estar atentos para dar suporte e incentivo, para que seus filhos tenham con ança para experimentar novos aprendizados, escolher caminhos e seguir seus sonhos.
Às vezes, uma pequena experiência, nos faz re etir e repensar o nosso cotidiano.
Aprendemos com as experiências que nos são ofertadas e, com elas, descobrimos habilidades e competências - áreas de interesse especí cas vão sendo formadas.

7. EXPERIÊNCIA
Quantas experiências usufruímos em família? Experiências geram curiosidade, interesse e aprendizado.

8. LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Expressar-se é um exercício constante de comunicação. Ter liberdade para nos expressarmos nos coloca prontos para aprender com as opiniões, sentimentos e pensamentos nossos e dos outros, mesmo com as explosões de raiva, mágoas e perdão.
É importante praticar a liberdade de expressão todos os dias. Tão importante quanto nos expressamos é poder acolher e dialogar com a expressão do outro.

9. EXEMPLO
Também aprendemos com os exemplos que testemu- nhamos com as pessoas com as quais convivemos. Não adianta impor! Se perceba, através das suas atitudes e comportamento, qual o exemplo vai inspirar seus lhos. O aprendizado de um exemplo pode ser motivado pelo esforço próprio em prol do desenvolvimento.
 
 
“APRENDI COM UMA DESCONHECIDA QUE A GENTILEZA, SEMPRE GERA GENTILEZA, DE UMA FORMA SIMPLES, COM UM SORRISO, COM UM AGRADECIMENTO, COMO AS COISAS PODEM SER DIFERENTES. MUDEI DEPOIS DISSO, PASSEI A DAR BOM DIA E AGRADECER SEMPRE COM UM SORRISO. TUDO FICOU MAIS FÁCIL, E OBTIVE RESPOSTAS INESPERADAS.”
Angélica, 34 anos, manicure e mãe de Luciana 4 anos

10. GESTOS DE CARINHO
Aprendemos não só com as lições de moral, mas com as dúvidas, com os gestos de carinho, de generosidade e com as experiências contadas. Aqui mais uma vez, o exemplo é fundamental.
Gestos de carinho podem ser tanto corporais, como verbais. Muitas vezes, uma postura de escuta, um sorriso, um abraço ou uma fala afetiva, pode promover uma grande transformação no outro!

 
“ABRAÇO E BEIJO MUITO A MINHA FILHA, ENSINO A ELA QUE UM SORRISO, UM ABRAÇO, UM OLHAR ATENTO PODE MUDAR MUITA COISA. TODOS GOSTAM DE UMA ATENÇÃO E UM CARINHO. SE EU GOSTO DE RECEBER O OUTRO TAMBÉM.”
Jacira, 38 anos, administradora e mãe de Ana 8 anos

11. SOLIDARIEDADE E RESPONSABILIDADE
Exercitamos a solidariedade e responsabilidade, por exemplo, ao ajudar uns aos outros na solução problemas cotidianos.

“MEUS FILHOS MAIS VELHOS AJUDAM OS MAIS NOVOS NA LIÇÃO DE CASA. EU NÃO ESTUDEI, MAS AJUDO COMO POSSO. ME INTERESSO E TENTO FICAR POR PERTO ENQUANTO ELES FAZEM O DEVER DE CASA.”
Jucelia, 40 anos, dona de casa e mãe do Jefferson, 19 anos, do Daniel, 13 anos, e do Breno, 8 anos

Quando os filhos mais velhos ajudam e se envolvem com os mais novos, todos ganham! Vale a pena investir em tarefas que envolvam a participação de todos.

Manual da FamiliaCOM A FAMÍLIA, EU APRENDO A TER POTÊNCIA!

A família é nosso primeiro espaço de convivência. É com a família e através do olhar dela que começamos a aprender, explorar e experimentar o mundo. Em família temos nossas primeiras experiências de comunicação e de convivência so- cial, por meio de encontros, desencontros, negociações, trocas de pontos de vista, acesso a novos conhecimentos.
 
CONVERSAR FAZ BEM!
 
Conquistamos a fluência comunicativa por meio da escuta e da argumentação, através de perguntas e respostas, promovendo desta forma a construção de repertório e a organização dos fios narrativos. Mas tudo isso requer a reciprocidade e a gentileza do olhar para o outro. Precisamos aprender e ensinar a sorrir, conversar, fazer amigos, tratar as pessoas com respeito e cortesia, expressar dificuldades e pedir ajuda. Este aprendizado começa em casa e pode ser melhor desenvolvido em família!

"QUANDO MINHA FILHA TINHA 10 ANOS, EU E MEU MARIDO QUASE NOS SEPARAMOS. ELA COMEÇOU A IR MAL NA ESCOLA, NÃO LIGAVA PARA LIÇÃO, NÃO FAZIA AS PROVAS, QUASE REPETIU. NO MEIO DA CRISE COM MEU MARIDO, FOI DIFÍCIL TER CABEÇA PARA CONVERSAR COM ELA, MAS NÓS CONSEGUIMOS. HOJE ELA É UMA ALUNA MARAVILHOSA, FAZ CURSO DE INGLÊS, ESPANHOL E MÚSICA NA IGREJA, ESTÁ TERMINANDO A ESCOLA E ME AJUDA MUITO COM AS TAREFAS DOMÉSTICAS. SINTO MUITO ORGULHO DA MINHA FILHA E SEI COMO O DIÁLOGO FOI IMPORTANTE!”
Vera, 35 anos, porteira e mãe da Jéssica, 17 anos e do Leonardo, 4 anos
 
 ESCUTAR TAMBÉM!
 
Manual da Familia
E TUDO COMEÇOU POR AQUI!

ONDE A VIDA COMEÇA! EU, VOCÊ, NÓS COMEÇAMOS AQUI. NOS DESENVOLVEMOS NO VENTRE DA MÃE E INICIAMOS NOSSO CONTATO COM O MUNDO ANTES MESMO DE NASCER.
 
Nossas primeiras experiências já acontecem no aconchego da barriga. Emoções, sons e até o que a mamãe ingere nos afeta. Você sabia que na sexta semana de gestação já podemos reconhecer a voz dos nossos pais?
Aparentemente protegidos e acolhidos no ventre materno, a vida já começa a se mostrar para nós, cres- cemos e nos desenvolvemos, aprendemos a dividir recursos, energia e espaço. O pulsar do coração, os sons de todos os uidos ao redor e as possibilidades limitadas de movimento vão nos avisando que a permanência é temporária.

Cada um a seu tempo e buáaa... somos lançados nesta aventura que é a vida! Uns chegam a tempo, entre 38 e 40 semanas, uns chegam antes do tempo esperado e outros prolongam a estadia para além de 41 semanas. Independente da cultura e das crenças, todos nós parti- lhamos desta experiência no ventre, isto é fato.
Quando nascemos, precisamos do cuidado dos adultos, que nos aguardam aqui fora, tanto para sobre- viver quanto para nos guiar no início das nossas trocas com o mundo. Às vezes os adultos nos esperam animados, ansiosos, preparam tudo para a nossa chegada. Outras vezes não se sentem prontos ou, por razões bastante concretas, não possuem condições e muitos recursos para cuidar de uma pequena vida.
Mas a verdade é que independente da disponibilidade ou da condição de vida, eles, os adultos, também precisam de ajuda para lidar com o turbilhão que é a nossa chegada!

Adultos, agora que somos, podemos olhar para os nenês que vão chegando e que compartilharão das nossas vidas com cuidado, interesse, curiosidade e disponibili- dade. O amor vai se construindo, cada qual a seu jeito, e assim pais e lhos vão se conhecendo, aprendendo uns com os outros. Para cada criança que nasce, nasce uma mãe, um pai e uma nova forma de se relacionar. Por isso, também precisamos olhar com compaixão e solidarie- dade para os adultos que recebem e criam seus pequenos.
VOCÊ JÁ PENSOU A RESPEITO?

Você já pensou que as ações que tomamos hoje, em relação aos nossos filhos, continuarão tendo impacto daqui 15, 20, 30 anos? Os nossos cuidados e o amor que vamos construindo e depositando nesses pequenos cidadãos, fazem toda a diferença para eles e para a sociedade!

É cada vez mais comum e constante o debate sobre a primeira infância na formulação de políticas públicas em todo o mundo. Parece consenso nas discussões atuais que, quanto maior o investimento no desenvolvimento de crianças, principalmente entre 0 e 6 anos, maiores são as chances de contribuirmos para a formação de seres humanos mais potentes, saudáveis e justos, isso porque as conexões neuronais e a plasticidade cerebral são muito maiores neste período do que em qualquer outra fase da vida. É nesta etapa do desenvolvimento que construímos a base de quem somos.
Cada nenê nasce como uma novidade radical para o mundo, representando o novo e o desconhecido. Por isso, adultos e crianças da família que irão acompanhar o seu desenvolvimento desde o nascimento, precisam estar abertos para se renovar, permitindo as mudanças e para se acomodar a esta pequena pessoa, tão novidadeira, que vai transformar a família.

O desenvolvimento das competências socioemocionais se dá principalmente no início da vida, pois embora possamos adquirir novas habilidades ao longo da vida, é na relação com nossos primeiros cuidadores que desenvolvemos a base de quem somos. Como a rma Allan Schore (1994), os seres vivos organizam o máximo de habilidades, competências e forças no início da vida. Sabe-se que o cérebro possui dois hemisférios, um linguísguistico ou verbal (geralmente o esquerdo) e um não linguístico ou não verbal (geralmente o direito), que processam tipos diferentes de informação.
O hemisfério não linguístico é responsável pelo processamento das emoções e está mais profundamente relacionado ao corpo. “As nossas experiências de momento são inconscientemente processadas pelo hemisfério direito e ordenadas por valência emocional, dependendo de julgarmos a experiência ameaçadora ou benigna” (Wilkinson, 2013, p.2).

O Hemisfério linguístico ou verbal, por sua vez, é responsável pelo que chamamos de funcionamento racional, prevalecendo uma visão linear, cognitiva, analítica e verbal. Em oposição ao hemisfério não linguístico, que em geral pouco tem percepção de tempo, o hemisfério linguístico tem noção de presente, passado e futuro. Os dois hemisférios também se diferenciam pelo tempo de maturação. O hemisfério não linguístico já é funcionalmente ativo desde o momento do nascimento e o principal responsável pela nossa percepção até, mais ou menos, os 3 anos de vida, quando o hemisfério linguístico fica funcionalmente maduro. Aí, a percepção da criança adquire o aspecto racional, ligado ao mundo das ideias e das palavras. É o trabalho conjunto dos dois hemisférios que nos permite ter uma noção adequada de eu e de mundo.
“A memória é uma função cerebral” (Rios; Armando; Regina, 2012, p.21) que determina quem somos. A cada nova vivência um grupo de neurônios é excitado, formando um padrão neural que continua existindo mesmo após o término do evento. O caminho neural constituído será acionado sempre que houver outra vivência semelhante a ocorrida. Quanto mais emotiva é a informação que recebemos, maior é a carga de substâncias químicas que ocorrem neurologicamente constituindo a memória. Constatou-se, também, que a alteração dos padrões neurais não ocorre em isolamento, sendo as relações afetivas fundamentais nesse processo. O desenvolvimento mente-corpo, portanto, se dá a partir de relacionamentos afetivos, inicialmente com nossos primeiros cuidadores e, depois, com alguém signi cativo. Daí a importância das relações afetivas na aquisição de aprendizados e competências.
Nos primeiros anos de vida, as memórias são constituídas com uma velocidade como jamais ocorrerá novamente. Nessa etapa da vida não só temos grandes avanços no que se refere a aquisições físicas, como constituímos a base da nossa personalidade. É na primeiríssima infância que desenvolvemos a habilidade de dar e receber afeto e estabelecer vínculos, por exemplo.
Nesse contexto,fica clara a importância da família no desenvolvimento de competências socioemocionais, pois é a família que cumpre a função de nos estimular afetivamente nos primeiros anos de vida. Não é à toa a força que a primeira infância vem ganhando nos programas e políticas públicas e sociais.

*Texto adaptado do artigo de Camara, “Calatonia: um meio que pode contribuir para a elaboração do trauma?”, publicado pela revista Jung & Corpo, v. Ano XIV 14, p. 7-16, 2014.

 
“SER MÃE É UMA DAS MAIORES BATALHAS QUE EXISTEM PARA TRAVAR. É ABDICAR DO TEU, PARA TER ALGUÉM. E POR ISSO É REVER VALORES E ENTENDER QUE A MATERNIDADE TE OBRIGA A SE OLHAR DIFERENTE. SER MÃE É UMA OPORTUNIDADE. UMA OPORTUNIDADE PARA VOCÊ MESMO SE REVER, SE RECONSTRUIR. UMA OPORTUNIDADE DE SER, EM UM OUTRO MUNDO, EM UMA OUTRA FORMA. SER MÃE, HOJE, NESTE MUNDO, É QUASE UMA NOVA ‘CAUSA’: SER MÃE É RECONSTRUIR O MUNDO, QUERER MUDAR A SOCIEDADE, LUTAR PARA SER DIFERENTE, LUTAR PARA UM MUNDO MELHOR. SER MÃE, NO MUNDO DE HOJE, É QUASE UM ATO DE RESISTÊNCIA. É UM SER POLÍTICO.”
Priscila 35, psicopedagoga e mãe do João Ernesto, 8

 
Essa informação não é novidade para muitos estudiosos da primeira infância, mas o campo de investigação sobre a importância desse ciclo de vida passa, agora, por um momento de grande expansão. Seus resultados convocam, cada vez mais, governos e sociedade civil a se mobilizarem para fortalecer ações voltadas aos primeiros anos de vida afim de garantir, a longo prazo, uma sociedade mais justa, solidária e próspera. Olhando por outro ângulo, ao investirmos, desde a gestação, no relacionamento para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, estamos também colaborando com a redução de parte dos problemas enfrentados nos dias de hoje, como a violência, a desigualdade em oportunidades e a falta de mobilidade social, que perpetuam a condição de pobreza. Afinal, estamos investindo no bom desenvolvimento da base da sociedade.
“SER PAI ME OFERECE UMA CHANCE ÚNICA SEMPRE FUI UM INSATISFEITO. E, POR ISSO, SEMPRE DESEJEI DE ALGUMA FORMA, POR MENOR QUE FOSSE, DAR VAZÃO A ESSA MINHA INSATISFAÇÃO E MUDAR O MUNDO. SENDO PAI, A CHANCE DE MUDAR O MUNDO ESTÁ NA MINHA FRENTE. QUERO CRIAR
A MINHA FILHA PARA SER UMA MULHER FORTE, CORAJOSA PARA VOAR, FIRME PARA DEFENDER SUAS IDEIAS, LIVRE PARA SER O QUE ELA QUISER E SONHADORA O BASTANTE PARA ACREDITAR QUE ELA MESMA É CAPAZ DE MUDAR UM MUNDO INTEIRO. ELA AINDA NÃO SABE, MAS O MEU MUNDO ELA JÁ MUDOU”.

Felipe, jornalista e pai da Lis, 2 meses

Relação e afeto são palavras chave para esse bom desenvolvimento. Uma criança, mesmo enquanto bebê, traz consigo um potencial de desenvolvimento imenso, que pode ser aflorado e ampliado pelos cuidados e pelos estímulos, principalmente pelas relações de afeto, que são construídas na simplicidade do convívio diário e na busca de um ambiente seguro, estável e acolhedor, em meio aos obstáculos que se colocam.

“O QUE MAIS ME DÁ PRAZER, É TAMBÉM O QUE MAIS ME CANSA: ACOMPANHAR AS DESCOBERTAS E OS NOVOS ESTÍMULOS DIÁRIOS. O PRIMEIRO SORRISO. A PRIMEIRA AGARRADA DE CABELO... A RESPOSTA A ESSES ESTÍMULOS É A MELHOR RECOMPENSA”.
Priscila 35, psicopedagoga e mãe do João Ernesto, 8 meses

A garantia do desenvolvimento pleno de algumas capacidades e habilidades logo no início da vida, é essencial para o crescimento físico e psíquico durante todos os ciclos da vida.
• Capacidade de desenvolvimento físico - as medidas do crescimento intrauterino (durante a fase de gestação), a altura e o peso até os dois anos de idade são indicadores importantes para o desenvolvimento futuro;
• Capacidade de desenvolvimento da comunicação - a ampliação do repertório de linguagem nos primeiros anos de vida acarreta num período pré-escolar mais tranquilo, com fácil assimilação de palavras, memória e contação de histórias;
• Capacidade de desenvolvimento da cognição - o exercício de resolução de problemas, de organização do espaço, composição de formas e cores, são atividades que in uenciam, e muito, a trajetória escolar da criança e sua competência inicial com a matemática, por exemplo;
• Capacidade de desenvolvimento das competências socioemocionais - é nos primeiros anos de vida que a criança incorpora a partir da sua relação com os mais próximos, a importância do afeto nas relações, desenvolve sua autoconfiança e aprende a lidar com as frustrações e outras emoções negativas.
Por isso, é preciso ter clareza de que as ações que tomamos com as crianças terão consequências duradouras e irão estabelecer padrões de comportamento para a vida toda. Vale dizer que, apesar dessa grande janela de oportunidade de desenvolvimento que ocorre na primeira infância, sempre é tempo de criar e fortalecer novos padrões de comportamento.
Seguimos aprendendo e nos transformando por toda a vida - o cérebro tem plasticidade e capacidade de seguir expandindo, mesmo que isso ocorra em uma velocidade cada vez menor.

Existe um princípio interessante, como conceito, que diz que 20% do esforço é responsável por 80% do resultado. Isto significa que se cuidarmos bem, com qualidade e intencionalidade, das nossas pequenas escolhas, estaremos garantindo um resultado positivo lá na frente. [Princípio de Pareto]

Cada família constrói o seu próprio caminho para o desenvolvimento de suas crianças, no dia a dia, com erros e acertos, e na relação com o outro. As crianças vão dando sinais de como devemos intergarir e nos relacionar. Cada criança, sendo única, possui e ensina o seu próprio jeito de ser. Quando ouvimos e damos atenção a uma criança, estamos aprendendo e ensinando, reforçando que ela é capaz de seguir seu caminho e desenvolver seu pleno potencial, desta forma, fortalecemos o seu protagonismo e participação ativa no mundo. Mais do que qualquer informação, é a escuta de si mesmo, dos próprios sentimentos, e do seu filho, que dão o tom e o ritmo desse cuidar.

“A FAMÍLIA É O FATOR DETERMINANTE MAIS DECISIVO DO BEM-ESTAR DA CRIANÇA. SUA RELEVÂNCIA ABRANGE MUITOS ASPECTOS. OS PAIS DECIDEM COMO ALIMENTAR SEUS FILHOS E QUANDO LEVÁ-LOS AO MÉDICO. O AMBIENTE DOMÉSTICO ONDE
AS CRIANÇAS SÃO FORMADAS PODE SER PROTETOR E ACOLHEDOR, OU CRUEL E FRIO. AO CONVERSAR E BRINCAR COM AS CRIANÇAS, LER OU CONTAR HISTÓRIAS PARA ELAS, OS PAIS OU OUTROS MEMBROS DA FAMÍLIA DETERMINAM O GRAU DE ESTÍMULO QUE AS CRIANÇAS PEQUENAS RECEBEM. TODAS ESSAS ESCOLHAS TÊM EFEITOS PROFUNDOS E DURADOUROS NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA.”


(BID, pg 59, 2016)
E ENTÃO, ESTOU ESPERANDO O BEBÊ!!!

Seja uma gestação ou uma adoção, a notícia da espera de um bebê é um marco. Inicia um processo de mudança e transformação para os pais e também para o filho que vai chegar. É um período de espera que pode ser de grande amadurecimento: se perceber, se conectar, se reconhecer, deixar a orar o afeto, entender e se perdoar acolhendo os sentimentos ambivalentes e contraditórios, enfrentar medos e angústias, enfim, aceitar a trajetória desconhecida que está por vir.
Para a mulher grávida, é um processo intenso e que vai se tornando cada vez mais concreto na medida em que o corpo muda e cria espaço para a nova vida que cresce! As sinalizações de vida surgem sutilmente, e o que parece imperceptível se transforma em chutes e empurrões, espreguiçadas, e então, o endurecimento da barriga, os seios crescem, mamilos mudam de cor, quadril se move, os pés muitas vezes incham e o corpo vive mudanças.
Nessa fase, já se pode iniciar uma comunicação com o nenê: há quem converse e conte histórias, quem acaricie e abrace a barriga, quem cante, não importa... é um novo idioma: seu e do seu filho. A relação já começou! E não estamos falando apenas da mãe, mas também do pai, parceiro ou parceira. Daquele que interage, partilha e acompanha de perto esse crescimento. Que também cresce, se transforma e inicia aí uma relação de afeto com o bebê.
Para Maturama (2004), é neste momento que a aprendizagem do linguajar se inicia, com o filho que está para nascer, num contínuo processo de vivência das emoções, num modo especial de conversar e imaginar. A história pessoal da gestação desenha a relação da mãe com o filho. Se é uma gravidez de risco, a relação é uma, se a gravidez é indesejada pode ser outra, se é uma gravidez planejada, se é uma gravidez distraída... e assim por diante. De forma geral, criam-se expectativas e medos.

“MINHA GRAVIDEZ FOI DE RISCO, LEVÁ-LA ATÉ O FIM ERA UM DESAFIO A SER VENCIDO, JÁ TINHA PERDIDO UM ANTES, FAZIA CONTROLE DE HORMÔNIOS TODO SEMANA, TIVE QUE TOMAR UMA INJEÇÃO PARA SEGURAR NO TERCEIRO MÊS, FIQUEI APAVORADA. MAS QUANDO PASSOU DOS CINCO MESES, EU SUSPIREI ALIVIADA. ME PERMITI SENTIR E INTERAGIR COM O MEU BEBÊ QUE
ESTAVA CARREGANDO. CONVERSAVA COM ELE, ME EMOCIONAVA COM OS CHUTES, PARECIA
QUE ELE ME ENTENDIA, ATÉ COM OS MEUS MEDOS. MAS O MEDO PERSISTIA, MEU FILHO NASCEU
DE 7 MESES, FIQUEI ATORDOADA, NÃO ME SENTIA PRONTA. ELE NASCEU DE PARTO NORMAL, CINCO HORAS DEPOIS DA BOLSA TER ROMPIDO. VEIO PARA O MUNDO E GRITOU ALTO, MOSTRANDO QUE VEIO PARA A VIDA. ELE NASCEU COM UMA MÁ FORMAÇÃO CONGÊNITA, ME SENTI CULPADA NA HORA, COMO SE NÃO TIVESSE FEITO TUDO PARA ELE NASCER BEM. PARA ELE, PARECIA QUE ISSO NÃO ERA UM PROBLEMA, QUERIA VIVER.”
Mônica 58, assistente social e mãe de Francisco, 28, e Marcelo, 22 anos
 
DESCUBRA
Pare. Respire. Sinta a conexão. Gestação é preparação, nos prepara para a chegada de alguém. Ser mãe pode ser um grande presente. Esteja presente também para sentir: entenda a sua gravidez como um processo único, seu e de seu bebê.

OBSERVE, SE PERCEBA
Tomar dimensão das mudanças no seu corpo - durante a gestação - pode te colocar em contato com a mãe que nasce em você e com o lho que está se formando.
É tempo! Um tempo importante: tempo de amadurecimento, tempo para se abrir, tempo dilatado, para se perceber, se conectar, se reconhecer e deixar aflorar o afeto. Um tempo bom para entender os sentimentos ambivalentes e contraditórios, tempo para se sentir capaz e forte para enfrentar os medos e angústias...
Tempo para imaginar mudanças e se preparar para elas. Tempo de boas vindas!

RESPIRE
Tudo é muito mais intenso, mas tudo também é processo. Tem os hormônios, o corpo vai se adaptando, se acomodando, e você vai tomando consciência no tempo e na medida que seu corpo se transforma. Deixe o ar entrar, perceba os pulmões se encherem, esvazie lentamente e relaxe. Tome consciência da sua respiração. Observe a sensação do ato de respirar. Veja como o peito e o abdômen se expandem e se contraem. Basta uma respiração consciente para produzir espaço onde antes havia uma sucessão ininterrupta de pensamentos.

• Qual é o gosto, quais os sabores? Qual alimento? Meu alimento nutre uma nova vida. Posso mudar de hábitos para garantir a minha saúde e a saúde do meu nenê?
• Saio pra caminhar, me sinto pesada, me movo mais lentamente... o pé pode inchar, tudo bem!
• Quais os sons que eu gosto de ouvir com o meu bebê? Ouvir música me relaxa?
• Qual é a hora do dia que o meu bebê se mexe mais?

“NA MINHA GRAVIDEZ, DEIXEI DE TOMAR CAFÉ E CHOCOLATE, TINHA QUE COMER LANCHINHOS ENTRE AS REFEIÇÕES, PARA NÃO ENJOAR COM BARRIGA VAZIA MAS TAMBÉM PARA NÃO COMER DE UMA SÓ VEZ!”
Sofia, 45 anos, arquiteta e mãe do Rafael, 15, e da Gabriela 12 anos
O BEBÊ CHEGOU!

E com ele, um turbilhão de emoções: encantamento, felicidade, realização, paixão, insegurança, medo, tudo junto e misturado. Há um estranhamento inicial, a realidade é sempre diferente, do que se tinha imaginado.
Vamos nos aproximando, entrando em contato com este novo ser. Olha o pezinho, as costas são peludinhas, nasceu carequinha e o tamanho dos dedinhos? A partir daí o amor se desenvolve, para cada um de um jeito. O amor é construído no dia a dia...

A fragilidade do nenê é concreta e, ao segurá-lo, a fragilidade do adulto também aparece. Todas as informações obtidas parecem irrelevantes, pois esse cuidar precisa ser construído.
Essa fragilidade exige dos pais e da família compromisso e responsabilidade. Capacidades precisam ser acessadas e, muitas vezes, aprimoradas: confiança, tranquilidade, segurança, ritmo, intuição. Para alguns pais é possível perceber até o tipo de choro do bebê, se é porque tem xixi na fralda, se tem fome, se está com cólica, se está frio ou se faz calor.

Para o bebê, o mundo é desconhecido. Ele precisa se adaptar com a temperatura, o ar, o cheiro, os sons, vai percebendo a água morna, o tecido da cama, o espaço ao redor, o contato com o outro, o aconchego do colo... É muita coisa! Sua dependência é total e sua comunicação é desa adora para quem está habituado a comunicação verbal. O bebê se manifesta de outras formas, a partir do choro e das expressões corporais onde anuncia medo, insegurança, fome, dor e desconforto Ele precisa de tempo, ser guiado, estimulado e principalmente se sentir seguro, para poder ser livre e se aventurar. Para mediar esse caminho, os adultos precisam estar juntos, dispostos a ensinar e aprender.

O tato é a principal forma de interação e aprendizado do recém-nascido. Aos poucos os outros sentidos vão cando cada vez mais afiados. É através do toque que o bebê começa a perceber suas dimensões, o limite entre ele e o outro. Toque, colo e carinho, ajudam o bebê a perceber e desenvolver afeto, sensação de segurança e de bem estar. Isso será muito importante para que possa estabelecer relações afetivas saudáveis no futuro.

“SER PAI PARA MIM É UM PRIVILÉGIO INDESCRITÍVEL. PODER VIVENCIAR O CRESCIMENTO DA MINHA FILHA É A COISA MAIS INCRÍVEL QUE JÁ PASSOU DIANTE DOS MEUS OLHOS. NADA, NENHUMA EXPERIÊNCIA PELA QUAL EU JÁ TENHA PASSADO, CHEGA PERTO DE VER UMA PESSOINHA, DE POUCO MAIS DE DOIS MESES DE IDADE, SORRINDO CADA VEZ MAIS, OLHANDO NOS MEUS OLHOS, PRECISANDO DE MIM.”
Felipe, 32, jornalista, pai da Lis, 2 meses
MUITO PRAZER BEBÊ, SEJA BEM VINDO!

O bebê se apresenta e vai se revelando aos poucos, ocupando o seu espaço na rotina da casa e da família. Ele passa a ser o centro das atenções, pois é quem mais necessita de cuidados. Mostra que tem temperamento, humores, vontades e preferências desde muito cedo.
A criança aprende na medida que se relaciona e brinca. Assimila quem ela é e forma suas redes neuronais, cogni- tivas e socioemocionais.

ABRINDO ESPAÇO

Você pode criar espaços dentro e fora de você para que essa criança ocupe lugares.
• O que você pode apresentar a ela?
• Como pode ser essa família, com essa criança?
• O que pode ser bom mudar na sua dinâmica familiar?
• O que você pode experimentar?
• Como o bebê fará parte dessa família?


COM TEMPO, O TEMPO DÁ TEMPO E CONTA DE TUDO!

Lembre-se que os primeiros anos de vida são muito importantes! É na primeira infância que as crianças se desenvolvem e aprendem mais, mais coisas e mais rapidamente.
Nestes primeiros anos as crianças desenvolvem uma base muito importante, que vai criar um terreno fértil para cada conhecimento, cada aprendizado e cada capacidade que serão desenvolvidos depois. Tudo o que for aprendido depois vai ter como base essa configuração inicial. Dependendo da qualidade dessa base, a forma como lidamos com novos aprendizados, dificuldades ou relacionamentos, por exemplo, pode ser dolorida, desafiadora, ou então, possível e tranquila.
É importante permitir que a criança aprenda logo cedo a lidar com as suas frustrações, aos poucos e do seu jeito vai desenvolvendo habilidades que vão torná-la capaz de enfrentar os desafios da vida adulta.

A criança está aprendendo e explorando o mundo, como um pesquisador, ainda não sabe o que é certo ou errado, tudo é novo, tudo desperta curiosidade, não tem noção do perigo muito menos informação suficiente para processar o risco. Dizer não tranquilamente e com convicção é fundamental para as crianças irem delineando seus limites. É preciso ser claro e estar disposto a repetir quantas vezes for necessário. As crianças testam e insistem antes de aprenderem aquele “não” como definitivo. Além de ensinar sobre as regras da vida, o “não” bem colocado oferece segurança, incentiva a criatividade, na medida que provoca a busca de outras alternativas, e ajuda a criança a aprender a lidar com frustrações. O “não” que reprime sem fundamento e coerência, faz a função oposta, causa insegurança e inibe o pequeno pesquisador.

O mais importante aqui, é estar aberto para conhecer e descobrir junto, se conectar com o seu filho. Ele é um indivíduo assim como você. Tem gostos, desejos, anseios, vontades, medos e características próprias. Você irá ajudá-lo a descobrir-se e descobrir o mundo e, nessa relação, você também vai se conhecer melhor. Tudo pode acontecer de forma suave, prazerosa e divertida.

Algumas mães e alguns pais com as melhores das intenções imaginam planos para seus filhos antes mesmo de conhecê-los, de aprendê-los. O que faz parte e é importante para se preparar para essa relação. É igualmente importante o cuidado para que a fantasia construída não atrapalhe a aceitação desse filho como ele é na realidade. Para corrigir qualquer mal que possa ser criado a partir disso, vale sempre o exercício de reconhecer que um filho ou uma filha vivem para além de nós, possuem seu próprio percurso, e estamos ali apenas para servir de suporte para que o caminho seja percorrido com assistência e afeto.
QUEM É ESSE CARA?

O pai é uma figura importante na primeira infância. Mas quem é ele, a final?
A responsabilidade de ser pai de uma criança pode parecer um peso. Será que eu vou perder minha vida, tal como ela era? Será que vou dar conta? Será que nunca mais terei minha liberdade de volta?
Um filho vem somar com a família. Ele pode trazer novas ideias, novos olhares, novas formas de perceber. O pai pode ser um homem melhor por causa de um filho. E um filho poder ser melhor por causa de um pai.

PARTA DE VOCÊ - PARTE DE VOCÊ

• De que forma você pode cuidar de seu filho?
• O que você – e só você – pode trazer de sua história para ele?
• Quais são as minhas boas memórias de infância?
• Como posso apresentar o mundo pela minha perspectiva?

“EU CRESCI SEM PAI, COM UMA MÃE ESPETACULAR (A MELHOR), QUE ME DEU MUITO AMOR E APOIO PARA QUE ISSO NÃO SE TORNASSE UM DRAMA NA MINHA VIDA. E ISSO ME INSPIRA A SER O MELHOR PAI QUE EU PUDER SER PARA A MINHA FILHA”
Felipe, 32 , jornalista, pai da Lis, 2 meses
 
 
VOCÊ JÁ OUVIU ISSO?

Quando estamos recebendo um novo ser em nossas vidas, costumamos ouvir conselhos das mais diversas formas e dos mais diversos tipos de pessoas. Escutar é sempre importante: existe sabedoria em todas as falas e também nos silêncios. No entanto, aprenda com sensibilidade e com a colheita das boas informações, a decidir por si mesmo o que é melhor para o seu bebê e para você, observando o momento presente: um conselho ou uma máxima sobre os cuidados na primeira infância não devem fazer com que você se sinta inadequado ou diminuído.

O seu melhor sempre será a melhor opção de pai e/ou mãe para o seu filho. Ninguém conhece melhor as suas necessidades e a sua rotina do que você mesmo.

“SER PAI PRA MIM É VOCÊ TER UM PEDACINHO DE VOCÊ, É RENOVAR UM CICLO DA SUA VIDA. O MEU FILHO ME FAZ TER UMA CONEXÃO MUITO FORTE COM A MINHA VIDA, ME FAZ OLHAR MEU PASSADO, LEMBRAR DA MINHA INFÂNCIA, ME SENTIR IMPORTANTE, A APRENDER COM ELE A SER UMA PESSOA MELHOR E O MAIS IMPORTANTE A SER PAI.”
Fernando, 30 anos, engenheiro de produção e pai de Cadu de 1 ano e 6 meses

Você vai errar. Muitos bons acertos chegam com o reconhecimento dos erros. Faz parte do processo. Perdoe-se. As relações não vêm prontas, e a medida do que pode ser bom ou ruim será construída no dia a dia. Esteja aberto para aprender com seu lho, conhecê-lo, con ando também na sua sabedoria e – principalmente – na potência do que vocês estão construindo juntos. Uma relação saudável trará boas respostas para as dúvidas e perguntas que aparecem quando se convive em família.

Filho nasce do coração!
A vida em família é sempre única, assim como são
únicas todas as relações. Cada casal é um, cada família se comporta de um jeito e cada lho é diferente um do outro – como os dedos da nossa mão. Apesar das diversas diferenças entre as famílias – e de seus diferentes modos de existir – também existem muitas semelhanças. Por isso, a observação é importante para conseguirmos nos perceber: como um, como dois, como três, como todos! Quem eu sou? Quem é essa criança que chegou na família? Eu me transformo com a chegada dela?

“EU LEMBRO DE IR DORMIR NA CAMA DOS MEUS PAIS QUASE TODA NOITE, E FICAR NO MEIO DELES. DEPOIS QUE A GENTE CRESCE NÃO PODE FAZER MAIS ISSO, PORQUE OS PAIS FALAM QUE A GENTE JÁ CRESCEU.”
Rebecca, 10 anos

Observe: posso aprender com a experiência do outro?
Com a chegada desse novo ser, a família se modi ca. Como acontece em todas as mudanças, podemos perder certas coisas e balançar alguma estrutura. Mas nem tudo está perdido: ganhamos muitas outras coisas também. O que ganhamos e perdemos com a chegada desse lho - e com a existência dele na família – vai depender das habi- lidades que desenvolvemos juntos. E nós temos muitas habilidades para trocar.

PERDE E GANHA
VIDA É UMA SÓ
QUE SE GASTA COM A SOLA DE MEU SAPATO A CADA PASSO PELAS RUAS
E NÃO DÁ MEIA-SOLA.
PERDI-A JÁ
EM PARTE
MAS A GANHEI DE NOVO PARA UM JOGO COMUM.
E NESTE JOGO,
EU A JOGO INTEIRA, A CADA LANCE,
QUE A VIDA OU SE PERDE OU SE GANHA COM OS DEMAIS
E ASSIM SE VIVE

                                                                        Ferreira Gullar

 
BRINCAR É COISA SÉRIA!
Segundo Maturama (2004: 146) “O bebê encontra sua mãe na brincadeira antes de começar a viver na linguagem”. É pela brincadeira que a mãe constrói o vínculo com o bebê. Essa relação precisa ser vivida em uma intimidade corporal baseada na total confiança e aceitação mútuas. Da mesma forma, o pai, os avós e os irmãos constroem o vínculo com o bebê pela brincadeira. Brincar é vivenciar uma ação sem nenhum propósito ou objetivo exterior, realizada espontaneamente pela simples emoção que a atividade proporciona (Maturama, 2004).
Importante considerar o brincar como sinônimo de se relacionar com outro e com o mundo, de acontecer, de realizar, mesmo sendo na fantasia. Brincar não precisa especificamente de um objeto para intermediar. A gente brinca com o corpo, com a voz, imita sons, com o gesto, faz mímica e tenta adivinhar, com caras e expressões. Fazendo cócegas, pondo o pé na boca...

Se aprende muito sobre o desenvolvimento das nossas crianças, observando-as brincar. Dá pra perceber as tensões, alguma maior dificuldade em lidar com erros e frustrações, reações mais violentas com os colegas, dificuldade em seguir as regras, medo de se aventurar e fazer tentativas. Sob o nosso olhar atento, em brincadeira e com sensibilidade, podemos agir, dar suporte e auxiliar as crianças nos seus maiores desafios, contribuindo para o seu pleno desenvolvimento.
A maneira como nós, adultos, reagimos quando perdemos ou ganhamos um jogo, a forma como nos permitimos fantasiar, experimentar, criar, encontrar soluções criativas que encontramos para os conflitos nas histórias que contamos... tudo isso desenvolve na prática e com muita diversão possibilidades e habilidades socioemocionais.

Existem crianças naturalmente hábeis para brincadeiras mais físicas, motoras. Outras crianças são essencialmente criativas, outras sociais e comunicativas. O importante é respeitar os interesses e o divertimento de cada criança e também expor cada uma delas a todas as possibilidades. Assim como, é importante respeitar os seus limites. Para brincar precisamos estar confortáveis e espontâneos. Nem todo mundo gosta de brincar de casinha, de jogos de tabuleiro, de corrida... Mas, se você parar e pensar bem, certamente reconhecerá momentos na relação com seu filho em que é levado pela simples emoção da atividade. Qual a sua brincadeira em família?

“O último que chegar é a mulher do padre”
Quem não se lembra de momentos, brincadeiras, travessuras e piadinhas que realizamos na nossa infância? Com irmãos, com amigos, com nossos vizinhos, ou na família, isso não importa: brincar faz parte da vida e é responsável por grandes memórias da nossa primeira infância. Mais que isso: brincar é fundamental, é o exer- cício da imaginação, da exploração e da criatividade.
​​​​​​
A gente brinca aprendendo e aprende brincando: brincando de imitar o outro, seguindo o mestre, e sendo o mestre, inventando movimentos e dando risadas das dificuldades, brinca de telefone sem fio e entende como a comunicação se perde divertidamente no caminho... A gente brinca de esconde-esconde, de gato mia, de adivinhar, de observar e de lembrar, a gente brinca de cuidar de nenê, fazer papinha, tirar e colocar a roupinha, montar blocos e criar cidades, encaixar coisas, fazer castelo de areia, cavar buraco, virar croquete, pega-pega, pula corda, acertar com a bola, correr da bola, levantar e deitar rapidamente respondendo aos comandos de morto ou vivo... A gente brinca muito melhor interagindo com o outro, mas também brinca sozinho e fantasia mundos. Muitas vezes a gente inventa brincadeiras: em viagem busca encontrar fuscas vermelhos que cruzam o nosso caminho para gritar “caramelo!”.

É preciso entender que brincar é uma forma muito legal e divertida de entender e conhecer seu filho. É claro que não há um jeito certo ou errado de brincar e – como em tudo, na família – não existe receita. Mas é importante que a criança conheça seus pais de diversas formas e é brincando que, juntos, compartilhamos e entramos em mundo só, igualamos as relações, sonhamos, imaginamos. A brincadeira pode ser um lugar e um momento secreto de uma família. E esse momento – só de vocês – é enriquecedor.


VAMOS BRINCAR JUNTOS?

E, por que não, criar espaços e momentos onde os pequenos possam ser estimulados pelos pais e cuidadores? É muito legal ter um momento da nossa rotina que proporcione esse encontro do brincar. A criação desses momentos possibilita às crianças a convivência com novas pessoas, ajudando-a no desenvolvimento de habilidades sociais e no processo de transformação do indivíduo. Não é preciso brinquedos caros ou lugares amplos para se criar um momento divertido, tudo pode ser uma brincadeira. Pense nas suas histórias e compartilhe com seu filho:
 
• Do que você brincava quando criança?
• O que era mais legal de brincar?
• Quais brincadeiras a gente consegue realizar juntos?
• Quais os objetos que temos em casa podem se transformar em brinquedos ou brincadeiras?
Vamos ser criativos! Somos todos um tanto artistas!
SUGESTÃO:
Crie uma lista – mentalmente ou escrita – das suas brincadeiras quando criança. Apresente-as ao seu lho. Conte para ele, em detalhes, como era: como você se sentia, o que era legal, o que era mais divertido, onde você brincava.
Redescobrir sua própria infância através de seu filho pode ser muito legal!

VAMOS BRINCAR SEMPRE

Brincar é muito importante: além de nos fazer bem (como muitas pesquisas cientí cas comprovam), o brincar estimula a criatividade, auxilia nas relações, alivia tensões e nos deixa com muito mais facilidade de elaborar o mundo a nossa volta. E além disso, e muito mais importante de tudo: brincar é legal pra caramba!

IMPORTANTE:
PESSOAS QUE BRINCAM A VIDA TODA SÃO MENOS VIOLENTAS - A BRINCADEIRA É UMA ATIVIDADE QUE PROMOVE A CULTURA DE PAZ!
  •  DOCUMENTÁRIO TARJA BRANCA - A REVOLUCÃO QUE FALTAVA

A partir dos depoimentos de adultos de gerações, origens e profissões diferentes, o documentário fala do ato de brincar, e como o homem pode se relacionar com a criança que mora dentro dele. Por meio de reflexões, o filme mostra as diferentes formas de como a brincadeira, ação tão primordial à natureza humana, pode estar interligada com o comportamento do homem.
Já sabemos que o desenvolvimento de uma criança é definido por uma série de fatores, sejam de dentro (carga genética e condições fisiológicas) ou de fora (ambiente, atenção e afeto). Dentre tantos aspectos fundamentais para a criança crescer de forma saudável, o brincar é uma das atividades mais importantes.

Brincar é a melhor maneira para que as crianças se relacionem com o mundo exterior. É através deste simples ato que ela desenvolve sua identidade e percebe o mundo ao seu redor.

 
Brincar é um estado de presença, é imaginar, criar e recriar o mundo a nossa volta deixando a imaginação fluir para transformar e reinventar a nossa maneira de ver e ser na vida. Você pode brincar AGORA, por ex. O tempo todo é AGORA, e pra brincar não tem hora.
Estamos dizendo que o brincar é um estado de leveza e esse estado pode estar presente nas mais simples tarefas do nosso dia a dia.

Podemos brincar com nossos filhos enquanto fazemos a janta, contando como foi nosso dia, fazendo uma voz diferente, fazendo uma batucada na tampa da panela; dançando; transformando a colher num microfone, num lápis, num foguete... e por aí vai...
Basta observarmos as crianças para percebermos que não existe lógica, não existe certo ou errado ou qualquer tipo de julgamento ao brincar.
Basta também embarcarmos com elas em suas fantasias pra descobrirmos que além de contribuirmos com a inteligência e desenvolvimento dos nossos filhos, estamos também fazendo o bem a nós mesmos, pois brincar nos deixa mais leves e felizes, nos faz sentir mais vivos e criativos para continuar enfrentando as dificuldades que a rotina traz.
  • FILME: “A VIDA É BELA”
Onde o pai diante da tragédia do holocausto é preso com o pequeno lho num campo de concentração e brinca ao ngir estar num grande jogo de competição para ganharem o prêmio máximo que é um tanque de guerra.
Ao fazer isso o pai suaviza para o lho e para si mesmo as atrocidades que a realidade impõe.


BRINCAR TAMBÉM FORMA CIDADÃOS FILHO É PRO MUNDO...
As crianças aprendem o tempo todo, em qualquer lugar. A rua é um lugar de grande aprendizado, de exploração. Um simples trajeto pode desencadear várias experiências: o contato com uma flor, o movimento da rua, o encontro com várias pessoas diferentes, os diferentes formatos dos prédios, as árvores balançando pelo vento, os diferentes níveis de piso, o reconhecimento do seu bairro.
Tudo se transforma em oportunidades de aprendizagem e de ampliação de referências. Ao circular pelo território, a criança também aprende noções de espacialidade e a ter mais segurança e ajuda no desenvolvimento de sua independência e autonomia.

A rua, o bairro, o microterritório são cenários onde vivemos nossa experiência cotidiana, eles nos remetem a um lugar, a uma história e a uma identidade. E, por consequência, nos possibilitam construir um sentimento de pertencimento, criar raízes e vínculos com esses lugares. Assim, transformamos o nosso olhar para o espaço urbano num lugar de afeto, nos apropriamos e valorizando praças e espaços da cidade em que vivemos, nos tornando cidadãos melhores, participantes.

Quando pensamos no desenvolvimento de nossas crianças é essencial que se tenha em mente que parte do aprendizado e do desenvolvimento delas como cidadãos do mundo acontecerá a partir da realidade local em que vivem. Isso inclui a casa, a creche, a escola, as ruas e praças do bairro e a forma como elas convivem com outras crianças, com os adultos da família, do bairro. Como a comunidade recebe e encontra com essas crianças? Como os adultos dividem o espaço com essas crianças?

Será que o motorista da perua escolar é um bom contador de histórias ou cantor? E a dona da lanchonete da escola que os alunos adoram? Será que ela não tem uma receita bacana para realizar uma aula para os alunos?
Para além das creches e escolas, não podemos nos esquecer que as crianças têm uma gama imensa de possibilidades de ocupação do espaço público e que as cidades são espaços de encontro. Você já teve a oportunidade de observar um grande grupo de crianças andando pela cidade? Elas param o trânsito, arrancam sorrisos e promovem uma quebra no cotidiano. Que tal agitar um passeio com a galerinha da escola dos seus filhos com uma volta pelo bairro identificando possíveis espaços de brincar?
Ou então fazer uma caminhada para colher histórias dos comerciantes do bairro e cada um escreve, desenha, pinta o que achar legal!

Desde os anos 90, países do mundo todo tem firmado diversos compromissos e trabalhado em políticas públicas para que as cidades sejam amigáveis com crianças e com os bebês. São inspirações para que as cidades sejam territórios que ofereçam pleno desenvolvimento e qualidade de vida para nossos pequenos cidadãos e que se tornem lugares educativos – Aprender na cidade, com a cidade e com as pessoas.
Mas cabe a cada um de nós que convive com um bebê ou com uma criança, ampliar as possibilidades de convívio e socialização. Colaborar para que esta criança ocupe de fato um lugar que também pertence a ela: a cidade.
Existem muitas coisas interessantes que seu filho conhecerá e descobrirá no mundo que acontece à nossa volta. Participar, junto com ele, dessa descoberta pode fazer você redescobrir o mundo também. Quais são os lugares que você gostaria de apresentar ao seu filho? Como você pode ajudá-lo a conhecer e a fazer parte desse mundo que o cerca?

 
As cidades deverão se preparar, cada vez mais, para melhor acolher e integrar as crianças em seus espaços urbanos, sejam eles públicos ou privados: escolas, centros comerciais, parques, praças, ruas e avenidas tem apresentado novas formas de tornar a sociedade acessível para uma criança.
Mas sabemos que as cidades podem mais e você pode ajudar acompanhando seus filhos nesses espaços, socializando com outras crianças e famílias e fazendo-o – aos poucos – participar da cidade. A sociedade, a final, precisa ser de todos nós.
Observe a cidade com seu filho. Avalie. Sugira. Critique. Ajude a transformá-la num espaço ainda melhor para todas as nossas crianças.

ATENÇÃO

É importante lembrar que um filho não é “meu” ou “seu”. Apesar das responsabilidades em criar uma criança e das escolhas que são feitas pela família nessa criação, ela é um indivíduo e não “pertence” a ninguém: ela tem vontades, decisões e, principalmente direitos garantidos na sociedade.
A responsabilidade sobre uma criança é de toda a sociedade. Portanto, qualquer direito que esteja violado ou ameaçado pode (e deve) ser defendido por qualquer indivíduo que presencie essa violação. Todos nós somos responsáveis pelas nossas crianças.

É importante também garantir gradualmente o desenvolvimento da autonomia deste pequeno ser que tem suas próprias vontades e uma personalidade própria que se construirá com sua confiança e apoio. De acordo com Jorge Larrosa, “à medida que encama a aparição da alteridade, a infância não é nunca o que sabemos (é o outro de nossos saberes), mas igualmente é portadora de uma verdade diante da qual devemos colocar-nos em posição de escuta; não é nunca a presa de nosso poder (é o outro que não pode ser submetido), mas, ao mesmo tempo, requer nossa iniciativa; não está nunca no lugar que lhe damos (é o outro que não pode ser abarcado), mas devemos abrir um lugar que a receba. Isso é a experiência da criança como outro: o encontro com uma verdade que não aceita a medida de nosso saber, como uma demanda de iniciativa que não aceita a medida de nosso poder e com uma exigência de hospitalidade que não aceita a medida de nossa casa.
A experiência da criança como outro é a atenção à presença enigmática da infância, a esses seres estranhos dos quais nada se sabe e a esses seres selvagens que não entendem nossa língua. Trata-se aqui, então, de devolver à infância sua presença enigmática e de encontrar a medida de nossa responsabilidade na resposta diante da exigência que esse enigma traz consigo.”

POIS BEM:
FAVORECER O DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA DA CRIANÇA E OBSERVAR TODO O PROCESSO COM PRESENÇA, APOIO E RESPEITO, É ESSENCIAL.

O QUE PRETENDEMOS COM TUDO ISSO? ACREDITAMOS NA POTÊNCIA DO GRUPO FAMILIAR E DE CADA UM.
Destacamos o sentido da família, refletimos sobre nosso poder na garantia dos laços afetivos que a fortalece e sugerimos algumas atividades práticas com o intuito de trazer reflexão e ação para o dia a dia das famílias.

​​​​​​​Esperamos que cada um possa usufruir deste material para tomar consciência de suas potências, de seus papéis e sentimentos, para criar e compartilhar novas experiências que sirvam para você e para outras famílias. Que, diante dos desa os da rotina, possamos incorporar novas atitudes para o fortalecimento de cada um e da família. Quais são as suas potências? E as da sua família? Você já parou para pensar sobre isso?

 
VAMOS JUNTOS?
ATIVIDADES PARA FAMÍLIA

 

Manual da Familia
 
I. ALBUM DE FAMÍLIA

O suporte para você reunir as estórias pode ser um caderno simples (com ou sem pauta), uma caixa de sapato, e até mesmo um álbum de fotos. A idéia é brincar com colagem e desenhos para deixar tudo a sua cara!

Conhecer bem sua própria história, suas origens e construir uma identidade a partir daí, proporciona uma reflexão e ajuda a projetar o futuro - com a sua história contada, qual é a história que você quer contar daqui pra frente?

A gente se conhece e se reconhece através do outro. É no convívio, na interação com as pessoas e com o mundo, que nos descobrimos. Sem julgamentos, é importante olhar no espelho, saber onde estamos em nossa história pessoal e se este lugar corresponde ao lugar onde realmente desejamos estar.

Sabemos que os encontros são importantes para a saúde dos relacionamentos familiares, devem ser valorizados e preservados. Todos nós podemos e devemos, sim, reservar na nossa rotina um tempo para nos reunir.

ENTÃO VAMOS MONTAR UM ÁLBUM RESGATANDO SUA HISTÓRIA AS HISTÓRIAS DA FAMÍLIA E SUAS ORIGENS!

• Quem são seus avós paternos e maternos? Onde eles nasceram?
Peça para eles contem um pouco sobre como era a infância deles. Colete fotos e pequenos objetos. Faça desenhos, se quiser pesquise coisas na internet. Você ouviu falar de alguma história marcante sobre seus avós e pais? Quantos filhos seus avós tiveram? Quem são?
• Saiba mais sobre os seus pais, onde nasceram? Como foi a infância deles? Onde e como eles se conheceram? Tente descrevê-los, como eles são e eram fisicamente? Como é humor deles? Do que eles gostam? O que eles te ensinaram?
• Agora conte um pouco sobre você! Qual a sua lembrança mais antiga? Você sempre morou na mesma casa? Qual era sua brincadeira favorita? Você tem filhos? Quantos? Quando nasceram?

VOCÊ CONSEGUE CONTAR UMA PEQUENA HISTÓRIA A RESPEITO DE CADA FILHO OU DE VOCÊ E SEUS IRMÃOS? QUANDO NASCERAM OS PRIMEIROS DENTINHOS? CHORAVAM MUITO? QUAL FOI A PRIMEIRA PALAVRA QUE FALARAM?


NA SUA FAMÍLIA TEM BICHOS DE ESTIMAÇÃO? COMO ELES CHAMAM? COMO VIERAM FAZER PARTE DA FAMÍLIA?

Aproveite todas essas perguntas para rechear seu álbum de família. Não precisa ter só fotos. Pode ter lembranças escritas, colagens e até objetos. Por exemplo, se tem uma criança na família, você pode cortar um barbante com o tamanho dela e guardar no seu álbum dizendo: esse era o tamanho de fulano quando tinha 3 anos. Um álbum também pode ter desenhos ou uma receita especial de família.
Manual da FamiliaII. UMA CASA COM JANELAS

Desenhe uma casa com janelas. Cada janela representa um habitante da casa (colocar uma foto ou desenhar cada pessoa na janela). Colocar as características de cada um escritas nas cortinas da janela ou numa jardineira que você pode desenhar embaixo de cada janela – depois do desenho pronto, que tal pendurar num lugar onde a família se encontra sempre?

III. SUPER PODERES

Com a família reunida, faça uma lista bem bacana de suas potências e outra lista com as potências que cada um poderia tentar desenvolver em si e praticar. Estipule um período para esta brincadeira e uma pontuação. Pense no “prêmio”, que pode ser uma atividade para se fazer também em família, porque no fim das contas, toda a família ganha com sua evolução. A força de cada um na família, com suas habilidades, implica diretamente no bem estar de todo o grupo!

Pelo período de tempo estipulado, cada um terá de agir de acordo e em sintonia com o super poder que já é seu, compartilhando este poder com os outros e ainda treinando um super poder que precisa ser melhorado. Todo mundo ajuda o outro a cumprir com esta tarefa, passando dicas e avaliando a performance. No final, todos se reúnem e compartilham desta experiência – foi fácil, foi difícil, precisou de ajuda... Somam-se os pontos e, se a família atingir a meta, se presenteia com alguma coisa bacana, eleita pela pessoa que melhor conseguiu atuar e melhorar com seus super poderes!!!

Compartilhar com sua família as respostas. Todos podem conversar e opinar a respeito. O objetivo não é apontar o dedo para o outro, mas sim pensar em como cada um pode usar suas qualidades para melhorar o que não vai tão bem. Como cada um pode contribuir para uma boa convivência e novas conquistas?
 
 
POTÊNCIAS E TALENTOS:
CADA UM PODE OLHAR PRIMEIRO PARA SI.
QUEM NÃO SABE ESCREVER PODE TER AJUDA OU DESENHAR.
PENSE EM CINCO DIFICULDADES E CINCO CAPACIDADES/QUALIDADES QUE VOCÊ ENCONTRA EM VOCÊ RELACIONADAS A CADA UMA DAS ÁREAS ABAIXO:
• RELAÇÃO COM A FAMÍLIA
• LAZER
• ESPIRITUALIDADE
• PARTICIPAÇÃO NOS CUIDADOS COM A CASA
• RELAÇÃO COM O BAIRRO/CIDADE

IV. ÁRVORE DE FAMÍLIA
Desenhe uma árvore e escreva os nomes das pessoas da sua família na copa da árvore (onde ficam as folhas e galhos), começando de cima para baixo, iniciando pelo nome dos avós maternos de um lado e avós paternos do outro. Siga essa divisão e depois escreva embaixo o nome dos pais e tios; abaixo os irmãos e primos e assim por diante.

V. CONSTRUINDO NOSSA CASA
 
Sugestão de atividade coletiva: planeje sua casa. Como ela seria, o que teria dentro dela? Pode fazer um desenho esquemático com possibilidades diferentes, pois isso ajuda a família a descobrir e realizar suas idéias e sonhos.
Muitas vezes as coisas que realmente importam dizem mais respeito aos hábitos e atitudes do que ao espaço propriamente dito. Você pode começar desde já a investir no seu melhor morar!
VI. MAPA AFETIVO DA VIZINHANÇA

UM DESENHO LIVRE QUE VAI MARCANDO OS TRAJETOS PERCORRIDOS PELA VIZINHANÇA E DOS LUGARES POR ONDE VOCÊ PASSA.
Canetinhas ou lápis coloridos e um papel grande em mãos (pode ser papel jornal, kraft, um lençol velho... também pode ser feito com giz de lousa, desenhando no chão do quintal).

O mapa afetivo começa com a família e a sua casa. Como é a sua casa, o que ela oferece? Quais as emoções mais frequentes que você vive nesse lar? O que vocês já conquistaram? O que se quer ainda conquistar? Quem são os seus vizinhos? Seus vizinhos são bem vindos na sua casa? E os parentes, moram longe?

Terminando de criar o seu cantinho, olhe à sua volta. Como é o bairro onde vocês moram? Tem algum espaço livre como uma praça, parque ou um centro de convivência onde vocês frequentam? Com quem vocês costumam contar quando precisam de uma força? Você brincam e convivem com outras crianças do bairro?

Cada membro da família pode desenhar os espaços que costuma frequentar no bairro. A casa do vizinho, a vendinha, a padaria, o campinho, uma praça, biblioteca... Já vai dando até vontade de passear para encontrar novas coisas no bairro que possam ser interessantes. Desenhe todos os lugares que te fazem sentir acolhido.
Então, ligue e trace caminhos por entre esses lugares. Este é o mapa afetivo do seu bairro que retrata como a sua família se relaciona e interage no bairro.
 
VAMOS OBSERVAR E OLHAR DE PERTO? REFLETIR?

CADA UM PODE DAR O SEU DEPOIMENTO. EXPLICAR SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O MAPA, CONTAR SOBRE COMO SE SENTIU DURANTE A CRIAÇÃO DO MAPA E COMO SE SENTE OBSERVANDO O RESULTADO FINAL.

O QUE VOCÊS PODERIAM FAZER DIFERENTE? VOCÊ PODE!


Manual da Familia
VII. PROJETANDO O PRESENTE

NOSSOS SONHOS, NOSSOS PLANOS, ONDE QUEREMOS CHEGAR? GOSTARIA MUITO DE... QUANDO EU CRESCER EU QUERO SER... UM DIA VOU CONSEGUIR...

Pensar no futuro não é apenas imaginar o que você quer, mas sim, agir no presente de modo a criar condições para concretizar aquilo que se quer. Assim, estabeleça alguns objetivos que te ajudem a se aproximar do que você deseja alcançar no futuro. Defina quais atitudes necessitam ser tomadas hoje para realizar seus objetivos. É o famoso jargão: não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje!

VIII. UM DESENHO, UMA HISTÓRIA

ASSIM COMO NAS NOSSAS ILUSTRAÇÕES, CADA DESENHO CAPTURA UM POUCO DE UMA HISTÓRIA.

Vamos inverter a ordem das coisas e pedir para cada um fazer um desenho livre. Vocês podem também buscar imagens numa revista velha, recortar e colar para criar uma situação. Depois, em família, cada um apresenta o seu desenho ou colagem e conta a estória que imaginou a partir da imagem. Isso ajuda muito as crianças e também os adultos a colocarem para fora seus sentimentos e compartilharem pensamentos que lhes vai ao coração.

IX. COMPARTILHANDO AS TAREFAS DA CASA

RECONHECER E OBEDECER REGRAS, AJUDAR O OUTRO, COMPARTILHAR OS FAZERES DA CASA E DA FAMÍLIA, ASSUMINDO DEVERES E TAREFAS EM GRUPO, RESPEITANDO O QUE É DO OUTRO.

Tomar decisões de maneira responsável. Essas são atitudes necessárias ao bom convívio coletivo, seja em família ou fora de casa.

Investir em atividades coletivas, tarefas compartilhadas, colocar a conversa em dia... Seguir aprendendo sempre!

​​​​
 
E tem jeito mais gostoso de aprender a cooperar do que preparando uma refeição juntos? Enquanto um cozinha o outro arruma a mesa, conta as fofocas do dia... Ou preparar um bolo e dividindo a raspa da tigela?

As tarefas de casa nunca terminam. Tendo ou não um funcionário que ajuda, sempre há o que fazer. Dividir as tarefas é uma boa forma de estimular a participação e ensinar sobre as responsabilidades de cada um.
Lembrem-se que a casa é de todos e que, se cada um zer um pouquinho, com certeza vai sobrar mais tempo e bom humor para curtir o lar em família!

Que tal fazer uma lista com todas as tarefas da casa: lavar louça, cozinhar, varrer, passar o pano, lavar roupa, tirar o lixo, cuidar dos animais, arrumar as camas, guardar a bagunça, organizar armários,...
 
QUANTAS VEZES NA SEMANA CADA UMA DESSAS TAREFAS PRECISA SER FEITA?
 
"CRIO MEUS DOIS FILHOS SOZINHO E, APESAR DE TERMOS UMA FAXINEIRA,
TEMOS UMA LISTA COM A DIVISÃO DAS TAREFAS DOMÉSTICAS. CADA UM TEM SEU DIA DE LAVAR A LOUÇA, POR EXEMPLO. FUNCIONA!"
Ricardo, biólogo, pai de João de 15 anos e Valéria de 19 anos


Manual da Familia
X. HISTÓRIAS E ANIMAÇÃO PARA SE REFLETIR E SE INSPIRAR

• Empatia - Kiriku e a Feiticeira
• O Pote Vazi /• O Homem que amava caixas
• A maior flor do mundo
• Aprender a aprender
• A Ilha
• The God


SOBRE DEPOIMENTOS E AFETIVIDADE

http://frame.bloglovin. com/?post=4617765761&blog=11529119
http://www.newyorker.com/magazine/2013/05/20/the- baby-in-the-well
http://itmae.uol.com.br/lifestyle/astrid-fontenelle- maes-cometem-errinhos-de- amor
http://www.fecomvirtudes.com.br/o-que-e-amar-na- pratica/
http://www.fecomvirtudes.com.br/a-familia-nos- ensinamentos-do-papa-francisco/


PARA INSPIRAR
Conhecer histórias de personagens REAIS que passaram por situações semelhantes às nossas, nos ajuda a reconhecer nossas emoções e re etir sobre as atitudes tomadas. Este tipo de diálogo entre pais e filhos sempre ajuda a entender em conjunto o melhor caminho a ser tomado.

XI. UM PASSEIO EM FAMÍLIA

Planejar um dia de passeio com a família é bem legal. Envolver todos nos planos. Descobrir interesses em comum é uma boa estratégia! Então, o que queremos fazer?
Lazer ao ar livre, caminhadas, visitas a parques, passeios pelos CEUs ou a algum SESC, costumam agradar a todos! Se houver uma limitação financeira, procure saber sobre as programações gratuitas que a cidade oferece. Existem alguns blogs e sites que sempre informam sobre o que de legal acontece na cidade.
 
XII. PARA ESTIMULAR VOLTAR AO TEXTO

A CURIOSIDADE
Semanalmente achar uma ou mais matérias de jornal que tragam algo de curioso e que desperte a vontade de saber mais.

DESAFIOS
Brincar com jogos de tabuleiro, quebra-cabeças ou esportes ao ar livre.


A CRIATIVIDADE
Fazer arte em casa (pintura, desenhos, dobraduras), brincar de cabaninha, propor que seu filho crie soluções para os próprios dilemas.

CONSTRUIR OPINIÕES
Perguntar a opinião dos filhos e ouvir idéias do que a família pode fazer num dia livre.

PESQUISAR
Vamos evitar o “não sei” e buscar respostas juntos? Com internet até no celular, não tem desculpa pra se acomodar.

ASSUMIR RISCOS
Vamos tentar?

CABE A FAMÍLIA CRIAR ESPAÇOS E MOMENTOS PARA QUE A AUTONOMIA SE DESENVOLVA.
 
Desde pequeno, deixar a criança caminhar por pequenos trajetos de mãos dadas, no lugar de carregar a criança ou empurrá-la num carrinho. Deixar que a criança assuma as responsabilidades perante a escola, cumprindo suas tarefas. Esperar que o adolescente se responsabilize pela comunicação frequente com os pais, passando informações sobre seu dia. Permitir que a certa idade os filhos possam fazer passeios sozinhos, instruí-los da melhor forma para que eles possam “se virar”.

O exercício de fazer por merecer é um ótimo aliado para educar. Com ele aprendemos a valorizar o processo, o meio e não apenas o fim – o percurso que se tem que percorrer é tão ou mais importante do que o resultado final. É mais importante saber fazer uma boa pesquisa do que ter a resposta pronta.

 
BIBLIOGRAFIA

Amphoux, P.; Thibaud, J.P.; Chelkoff. Ambiances en débats. À la Croisée, France, 2004
Araújo, Consuelo Carvalho. Amizade entre pais e filhos. 2012
Azevedo, Francisco. O Arroz de Palma. Editora Record, RJ, 2015
Balson, C. D. These Things Called Empathy’ in ‘The Social Neuroscience of Empathy
Bauman, Zygmunt. Vida Líquida. Editora Zaha, RJ, 2005
Berlo, David. O processo da Comunicação. Introdução à Teoria e a Prática. Ed. Martins Fontes, SP, 1999
Bloom, Paul. The baby in the well.
Caldas, C.F. Eu fico Loko. Novo Conceito Editora, SP, 2015
Carvalho, M.C.B. Gestão Social e Trabalho Social . São Paulo, Cortez Editora, 2014
Cury, Augusto. Mentes brilhantes, Mentes treinadas. Ed. Academia de inteligência, SP, 2010
Drescher, J.M. Quando seu filhos têm entre 6 e 12 anos, Editora Cristã Unida, SP, 1996
Dupas, G. Ética e Poder na Sociedade de Informação. São Paulo, UNESP editora, 2000
______. Tensões contemporâneas entre o público e o privado. Ed. Paz e Terra. SP, 2003
Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia. Ed. Paz e terra, SP, 2007
Goleman, Daniel. Foco. Editora Objetiva, SP, 2014
______Temos de ensinar nossas crianças a ter empatia pelos outros e pelo mundo. 2016
______ Tecnologia degrada a nossa concentração. 2014
______Como não perder o foco. 2014
Emicida, Vassão Felipe. Nóiz ( música) in albúm O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui, 2013
Heller, A., Fehér, F. A. Condição Política Pós–Moderna. Ed. Civilização Brasileira,, RJ, 1998
BIBLIOGRAFIA

Heller, Agnes. Uma crise global da civilização; in A crise dos paradigmas em ciências sociais e os desafios para o século XXI. Ed. Contraponto, RJ, 1999
Habermas, Jurgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Ed. Tempo Brasileiro, RJ, 2003
Hollfeldt, A.; Martino, L.C.; França, V.V. (org) Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. Ed. Vozes, RJ, 2001
Hugon, Nicole. Algumas reflexões sobre o papel do terapeuta comunitário.
John, Oliver P. The Big Five Personality test.
Lazarte, Rolando. Terapia Comunitária: Reflexões. outubro de 2010
Krznaric, Roman. Sobre a arte de viver. Empatia. Editora Zahar, SP, 2015
Mendes, P.B.M.T. Quem é o cuidador? In orientações para cuidadores informais na assistência domiciliar.  InDias, e.; Wanderley, j. E mendes, r.(Org.)2O ed. Rev.- Campinas, editora unicamp, 2005
Moreira, Jéssica. Em Debate: Trabalho com habilidades socioemocionais. 2014
Morin, Edgar. Os Setes Saberes necessários à Educação do Futuro. Cortez Editora, SP, 2002
Pondé, L.F. Os dez mandamentos (+um). Aforismo teológicos de um homem de fé. Ed. Três Estrelas, SP, 2015
Santos, D., Primi, R. Social and emotional development and school learning: A measurement proposal in support of public policy . Instituto Sena, 2014
Smolka, A. L.B.; Laplane, A.L.F.; Magliolino, L.l.S. O Problema da avaliação das Habilidades socioemocionais como Política Públicas: Explicitando controvérsias e argumentos. Educ. Soc., Campinas, v. 36, no. 130, p. 219-242, jan.-mar., 2015
Tough, Paul. Uma Questão de Caráter. Editora Intrínseca, São Paulo, 2014
Tuan, YI- Fu. Espaço e Lugar . A Perspectiva da Experiência. Ed. Difel, SP, 1983
Valente, Jane. Família Acolhedora: As relações de cuidado e de proteção no serviço de acolhimento. Editora Paulus, SP, 2013
Zanelato, Débora. A essência para a infância.
SITES
Educação para século XXI
Escola precise valorizar a diversidade das competências sociais
Educação para o século 21
A escola poderia ensinar a arte de viver
De nições de empatia
Search Activities &Games.
Imaginary Train
Educar para crescer
Escolas transformadoras
Escolas ensinam a lidar com as emoções, Educação, Estadão - Isabela Palhares

BLOGS SOBRE DEPOIMENTOS
http://frame.bloglovin.com/?post=4617765761&blog=11529119
http://www.newyorker.com/magazine/2013/05/20/the-baby-in-the-well
http://itmae.uol.com.br/lifestyle/astrid-fontenelle-maes-cometem-errinhos-de- amor
http://www.fecomvirtudes.com.br/o-que-e-amar-na-pratica/
http://www.fecomvirtudes.com.br/a-familia-nos-ensinamentos-do-papa-francisco/

HISTÓRIAS / ANIMAÇÃO
Empatia - Kiriku e a Feiticeira - O Pote Vazio - O Homem que amava caixas A Maior Flor do Mundo Aprender a aprender - A ilha - The God
ÍNDICE DE SIGNIFICADOS

AFETO
Todos os sentimentos e emoções que nos tiram de um estado neutro, como quando sentimos carinho, amizade, paixão ou mesmo raiva e irritação.

AUTONOMIA
Capacidade de gerir a si mesmo.

CARÁTER
A palavra caráter foi usada por muitas famílias entrevistadas como referência a ser honesto, valor que a maioria das famílias considera fundamental na formação dos filhos.

COGNITIVO
Processo de aquisição do conhecimento. Forma como pensamos, aprendemos, recordamos e percebemos as informações.

EDUCAÇÃO COGNITIVA
Construção do pensamento crítico e reflexivo necessários ao aprendizado dos conteúdos escolares como ciências, matemática, etc.

FAMÍLIA ALARGADA OU ESTENDIDA
Parte da família que não compõe o núcleo familiar, como avós, tios, primos e, até mesmo, pessoas que consideramos da família, como vizinhos e amigos.
HABILIDADES / COMPETÊNCIAS / CAPACIDADES SÓCIO RELACIONAIS / NÃO COGNITIVAS / SÓCIO AFETIVAS
Atitudes de convivência, perseverança e pertencimento, que impulsionam o aprendizado e fortalecem o vínculo, proporcionando a boa convivência.

LIMITE
Colocar restrições a determinados desejos ou comportamentos. Por exemplo, quando determinamos a hora que uma criança deve dormir.

RESILIÊNCIA
Capacidade de suportar e se recuperar de situações difíceis, voltando a um estado de vida saudável. A qualidade envolvida ao conceito de resiliência é positiva, foca na capacidade de adaptação e manutenção do equilíbrio favorecendo um desenvolvimento saudável.

VALORES
Regras sociais passadas de geração em geração, pela cultura e/ou sociedade. A família tem um importante papel na transmissão de valores, já que é nela que encontramos nossos primeiros modelos.
ANEXOS
FAMÍLIA E ESTADO
A família e o Estado são instituições necessárias ao bom funcionamento das sociedades. Indivíduos vivendo em sociedade necessitam consumir mercadorias, bens e serviços, que não podem ser obtidos pela via do mercado. Para alguns destes bens, dependem das políticas públicas ofertadas pelo Estado. Outros bens e serviços dependem da família por sua condição de provedora de afeto, socialização, apoio mútuo e proteção.

O Estado e a família possuem papéis similares em seus âmbitos respectivos de atuação: regulam, normatizam, impõem direitos de propriedade, poder e deveres de proteção e assistência. Tanto a família, quanto o Estado funcionam de modo similar enquanto filtros redistributivos de bem estar, trabalho e recursos. (Coelho de Souza; 2000).

 
É assim que se pode dizer que família e políticas públicas tem funções correlatas e imprescindíveis ao desenvolvimento e proteção social dos indivíduos.

Esta clareza, no entanto, é recente. No imaginário coletivo, apostou-se, na última metade do século que passou, em sociedades capitalistas e socialistas onde a família era prescindível e substituível por um Estado protetor dos direitos dos cidadãos.

FAMÍLIA, SOCIEDADE E MERCADO
Famílias partilham hoje de uma sociedade complexa, tecida pela velocidade das mudanças movidas por avanços tecnológicos e científicos contínuos, pela enorme conexão e interatividade entre local e global, por novos vínculos sócio relacionais que correm por artérias virtuais conformando uma variedade e quantidade de redes sociais ativas na definição das agendas e comportamentos político, sociais e culturais.

Subjugam-se ao apetite de uma sociedade do consumo, tornam-se inseguras e competitivas na busca do trabalho e do dinheiro; entretêm-se na sociedade do espetáculo e na comoção com a violência; preocupam-se com o corpo mais que com a alma; lutam e se enredam na felicidade rasteira, pragmática e imediata.

Sofrem na densa urbanização das grandes cidades, partilham de suas tensões sociais; do stress provocado pela difícil mobilidade, deslocamentos, poluição, ausência de conforto sócio ambiental e segregação entre ricos e pobres que convivem com toda sorte de vulnerabilidades.

São muito poucas as que possuem empregados para o cuidado doméstico; homens e mulheres são iguais e igualmente responsáveis pelas crias; trocam fraldas, cozinham e lavam louça; os bebês são enviados às creches; mãe e pai trabalham; acabam ambos estressados pela tripla jornada diária: trabalho, casa e relações íntimas.

A família continua sendo um precioso espaço de vida íntima, lugar de encontro humano, de construção de história de vida, de reposição de valores e exercício de poder moral sobre si própria.

 
E aí reside um de seus sofrimentos psíquicos: sentem-se fragilizadas para exercer esse poder moral e educativo, pois sobrevivem numa construção continuamente insegura da intimidade o que dilui o poder formativo dos adultos frente aos filhos: tudo se diz e se explode nos conflitos cotidianos; afrouxam-se os limites e mitigam-se as frustrações; buscam ingenuamente uma felicidade em ganhos materiais e de satisfação imediata.

Percebem-se desprotegidas, abandonadas à própria sorte. Vivem uma enorme impotência, como família, para gerar segurança aos seus. Pensam quase que exclusivamente na segurança financeira, em prover os bens materiais que em nossa sociedade apresentam-se na contínua sedução da propaganda pelo consumo.

Mas não é fácil! Homens e mulheres, pais e mães querem também usufruir das regalias da vida, querem se divertir, se realizar e por isso mesmo nem sempre conseguem priorizar os filhos no tempo e conversas que demandam.

Há, por isso mesmo, disputas de interesse (dos pais e dos lhos) que geram dificuldades de relacionamento no cotidiano; aceitação, paciência, cuidado que quase sempre é descuidado; as frustrações viram tensões que vão se amontoando...

Já não possuem redes de proteção como no séc. XX. Vizinhos quase sempre são desconhecidos; estão nas redes virtuais, conformando-se em outros modos de fazer amigos de proximidade; os avós constituem-se em porto seguro do núcleo familiar.

Os filhos já nascem respirando direitos, no fluxo de uma socialização negociadora em que eles perdem o sentido dos limites e, no mais das vezes, guiam-se como imperadores de seus desejos, utilizando da contestação “birrenta” a seu favor.

Se os pais e adultos cedem, os filhos perdem a chance de aprender a esperar, controlar seus impulsos, compreender e viver os limites da vida.

Valores como o da espera/esperança não são desenvolvidos. Descobrir e aceitar os limites pessoais, familiares e sociais não acontece. Persistência menos ainda.
OUTRAS HISTÓRIAS

LUCIANA 
Tenho quarenta e sete anos, sou divorciada e tenho quatro filhos.
Moro hoje na Ocupação São João (A ocupação foi feita num hotel abandonado no centro Columbia Palace, projeto de Ramos Azevedo) desde a invasão em 2010.

Casei tive uma filha, me separei e casei de novo, tive mais três filhos e me separei.
Morava na Zona Leste, tinha me divorciado, pagava aluguel, era uma luta diária. Comecei a participar do Movimento da Zona Leste para moradia e vi neste movimento a minha saída da insegurança que vivia em função do aluguel.

Nasci numa fazenda próxima de uma pequena cidade chamada São Miguel dos Campos em Alagoas. Meus pais moravam na Fazenda Gitirana, era um dos colonos. Meu pai era analfabeto, mas minha mãe fez o primário, sabia ler e escrever.

Entrei na escola só aos 12 anos, adorava estudar mas meu pai não deixava, achava que mulher não tinha que estudar. Foi pela insistência de minha mãe que consegui finalmente ir para escola. Minha mãe foi quem me ensinou à ler e à escrever.

Com 15 anos vim para São Paulo para estudar, fui morar com a minha madrinha que só conhecia por cartas. Consegui estudar até o final do ensino médio. Mas depois me casei, tive que trabalhar e parei de estudar.

Meu sonho era ser professora, só voltei a estudar de novo agora, quando vim para a Ocupação São João e tive acesso a várias informações inclusive da bolsa FIES , foi quando fiz o vestibular para o curso de letras na UINESP. Hoje estou no último semestre, prestes a realizar o meu sonho de ser professora.

Moro na Ocupação São João com os meus três filhos, desde a invasão em 2010, tem sido um processo de muita privação, mas muito rico de conhecimento e de vivencia.

 
Meu espaço é pequeno, é um dos apartamentos do antigo hotel. O espaço do quarto, é nosso quarto, nossa sala e nossa cozinha; o antigo banheiro compõe nossa área de serviço e o vaso sanitário. O chuveiro é coletivo, um por andar para ser dividido com todos os moradores do mesmo andar, pois a carga elétrica não é suficiente para todos terem seu próprio chuveiro. Dá para imaginar como é difícil nosso dia a dia. Mas compensa por outras coisas.

A ocupação tem várias atividades culturais e com certeza me estimulou a voltar a estudar e a conquistar o meu sonho de ser professora. Ganhei uma família imensa, aqui todos somos muito solidários uns com os outros, sabemos que podemos contar um com o outro, desde comida, roupa até olhar os filhos e dar dura quando eles estão fazendo coisa errada. Posso ir trabalhar sossegada, faço o mesmo por eles.

Além do apoio dos vizinhos ainda conto com o apoio do das regras do condomínio, todas as crianças e adolescentes, só podem sair depois das 10:00 horas da noite acompanhada dos pais. Não pode também entrar no prédio depois das 10:00 horas desacompanhado. Eles são monitorados por todos.

Meus pais vieram de Alagoas e hoje moram em Diadema com um dos meus irmãos, minha filha mais velha mora lá também. Gostaria de morar lá também pois poderia ficar perto de todos eles. Sinto falta deles. Sinto falta do ajuntamento da época que todos nós nos reuníamos em volta da mesa sem pressa.

Mas estou adorando morar no centro, tudo é perto, faço quase tudo a pé, tem bons serviços e muitos lugares legais para ir. Costumo ir na Pinacoteca, Museu da América Latina e o Museu da Língua Portuguesa meu preferido, pena que pegou fogo. A vida é mais fácil aqui, tem mais escolha de escolas boas, e isto significa melhores oportunidades para os meus filhos.

Até o ano passado eu trabalhava como auxiliar de cozinha em uma creche particular. Sai porque preciso fazer estágio, já até consegui um, vou fazer na escola do meu filho, na Escola Estadual Maria José.

 
Tinha bolsa família até há dois anos atrás, mas perdi por causa do meu filho mais velho que abandonou a escola. Fui até parar no Conselho Tutelar por conta dele. Foi uma fase difícil, mas agora ele caiu em si e viu que precisa estudar se quer ser algo na vida, até emprego ele não está conseguindo porque não tem o ensino fundamental. Mas ele se matriculou no EJA a noite e agora como tem 18 anos , está para ser chamado no exercito, mas não sabe se vai ser chamado ou dispensado. Está percebendo o quanto suas escolhas está pesando na sua vida. Está vendo o irmão de quinze anos, com um emprego de jovem aprendiz, porque completou o ensino fundamental.
Não posso reclamar dos meus filhos, eles são bons filhos, amorosos e me respeitam. O mais velho me deu mais trabalho nos estudos, os dois menores são excelentes alunos, não posso reclamar. Minha filha faz até ballet e leva muito sério.

Não tenho problema em impor limites com os meus filhos, mas diz que seus lhos respeitam muito seus irmãos. Para ter uma boa convivência entre eles no pequeno espaço criei um cronograma das atividades diárias, não é rígido , mas tem o que cada um faz, quem tem mais tempo , faz mais e no outro dia, o outro faz, é uma troca. Eu cozinho, eu lavo à roupa, mas os meninos também. Só cozinhar é que eu faço na maioria das vezes , sabe como é , comida de mãe é mais gostosa. Fiz também um cronograma de estudos, eu cobro deles todos os dias. Como nós temos só um computador, temos um critério, só podem usar duas horas por dia, tem um banco de horas, assim quem usar a mais, fica devendo no banco de horas e é descontado no outro dia. E tem também um horário, como todos dormimos no mesmo quarto, a hora de dormir é para todos. Quero que meus filhos tenham caráter, sejam honesto e tenham respeito pelos outros.

Minha mãe é meu modelo , minha referencia, ela é uma guerreira, nunca desistiu de nós, pelo contrário, sempre esteve presente, sempre nos incentivou e nos ensinou a enfrentar à vida, à nunca desistir. É o que eu tento passar para eles.
Meu maior sonho no momento é dar aulas e ter minha casa própria .

MÔNICA
Venho de uma família muito amorosa e próxima, tanto a nuclear (meus pais e irmãos) como a extensa (meus tios e primos).Conto com eles no que eu precisar. Nasci no interior e com dezessete anos me mudei para São Paulo para cursar a faculdade de Serviço Social. Morei com vários tios, foi uma experiência maravilhosa e acabei ganhando várias mães.
Casei com vinte cinco anos, tive dois filhos, mas só fui mãe com 30 anos.
Já dizia um velho ditado popular: Mãe é padecer no paraíso! Ser mãe para mim foi uma das experiências mais maravilhosas que já vivi, mas também uma das mais difíceis. Sou grata!

Fiquei grávida e perdi com três meses o meu primeiro bebê, por conta de stress de trabalho e uma bagunça na minha taxa hormonal. Engravidei logo em seguida mas tive que ficar de repouso por seis meses ,pois era uma gravidez de risco. Meu filho nasceu de sete meses, parto normal, mas com uma deformação congênita na orelha esquerda chamada microtia.Àquela época, as informações sobre microtia eram poucas, não tínhamos a internet para poder pesquisar, geralmente a informação ou vinha através do médico (você ficava refém do conhecimento que ele tinha sobre a questão) ou buscava numa biblioteca pública de preferência de alguma Universidade. Era muito complicado, você não tinha o acesso à informação que nós temos nos dias de hoje, e, trocar experiências com outras pessoas que estavam vivendo o mesmo problema, era quase impossível.

Os médicos não sabiam me informar a extensão da deformação. Eu só poderia ter um diagnóstico mais preciso quando meu filho completasse três anos, para poder fazer uma ressonância magnética sem anestesia. Os médicos diziam que não valia a pena fazer uma investigação maior naquele momento, e, de acordo com as pesquisas médicas, provavelmente meu filho teria menos de 1% de chance de ter audição do lado esquerdo , e, do lado direito ele apresentava uma audição, mas se era absoluta só o tempo diria.

Tive que vivenciar além disso, a permanência dele por duas semanas na UTI. A minha sorte é que como tinha muito leite acabei também fornecendo leite para as crianças do berçário da UTI, isto me deu força e me senti importante em poder ajudar outras famílias num momento tão frágil e de início de vida. Uma coisa é você ter conhecimento, a outra é vivenciar na prática. O primeiro dia do Rick em casa foi uma loucura!
Por mais informação que você tenha recebido, dar banho, amamentar, trocar fraldas, etc, no primeiro dia foi um caos. Eu não tinha ainda a habilidade necessária, eu tinha medo e o Rick também. Passei três dias dando banho e trocando o meu filho a quatro mãos, não me sentia segura. O tamanho, o peso e o problema dele super dimensionava a fragilidade dele frente aos meus olhos. A prática que eu possuía de cuidar de um bebê era nenhuma. Tive que construí-la, dia a dia.
Fui construindo minha confiança como mãe a duras penas, superando minha insegurança e controlando minha ansiedade.
Três anos à espera de um diagnóstico. Foi muito tempo!
O que eu e meu marido fizemos? Estimulamos meu filho o tempo todo, fomos em busca de respostas nos cuidados diários. Estimulamos de todas as formas, queríamos ver o quanto ele escutava e se escutava, se não tinha outros comprometimentos (como por exemplo, comprometimentos motores). Desta forma estávamos atentos como ele reagia aos estímulos (com música, com outros sons), se ele reconhecianossas vozes. Cada progresso era uma festa. Meu filho se transformou numa criança super ativa e curiosa.

Com seis meses ele engatinhava pela casa toda numa velocidade que não dava para se distrair. Aos 9 meses começou a falar as primeiras palavras e a andar com a ajuda de um carrinho eu me assustava com a velocidade e com a coordenação perfeita que ele tinha naquela idade. Era uma criança que tinha que ficar de olho!

O meu segundo filho nasceu um ano e meio depois, foi muito mais fácil, pois algumas coisas eu já tinha aprendido, mesmo assim, vivenciei um outro processo, pois cada um é único, as histórias são diferentes e as necessidades também! O nascimento do João ajudou a nos acalmar em relação ao Rick, pois ele logo se tornou o ídolo do irmão. Também pudemos ver, o quanto o Rick tinha evoluído e era normal como qualquer outro bebê.

Quando o Rick fez três anos, fizemos a tomografia. O Resultado apontou que ele tinha 100% no ouvido direito e no esquerdo tinha 60%. Ele necessitaria de uma cirurgia no futuro para poder ouvir melhor com o esquerdo. Este médico foi muito legal me enviou vários artigos sobre a microtia e desfez o monstro que eu tinha criado na minha cabeça, disse que ele não teria problema nenhum com o aprendizado por ouvir com um só ouvido, e que ele só teria problemas de saber de onde vem o som.

Estes artigos me ajudaram muito na minha relação com o Rick e com o mundo externo. Nunca deixei ele se sentir menos por conta do problema e nunca o tratei de forma diferenciada. Também nunca deixei ninguém tratá-lo como uma criança com deficiência, na escola sempre estimulei os professores a tratá-lo como uma criança normal e colocá-lo na classe sempre encostado no lado esquerdo para poder ouvir bem a todos. Foi importante envolver e me comunicar bem com todas as pessoas que participavam do desenvolvimento dele.

Esta deformação do pavilhão auricular e os limites que a deficiência impõe é um traço da identidade do Rick, a falta de audição no ouvido esquerdo o coloca de frente para outro de forma diferenciada e como tal ela não pode ser ignorada e sim trabalhada. Hoje ele possui estratégias para superar sua perda auditiva e isto nunca foi um obstáculo para ele conquistar as coisas que ele queria na vida, ele se assumiu e adquiriu confiança.
Quando ele tinha treze anos, resolvemos fazer cirurgia plástica na orelha e conversando com ele sobre isto ele me disse: Mamãe eu não sei se quero fazer uma operação plástica, esta orelhinha me possibilitou vários amigos, e ela é minha a outra será feita, não será minha.
Como disse, ele incorporou esta orelhinha como um traço de sua identidade, retirá la seria mudar a sua identidade. Mas no final ele acabou fazendo, porque haveria a possibilidade de melhorar a sua audição.
Aprendi no meu mestrado que a gente cuida do filho e não da doença. Pois ele tem sua subjetividade, sua personalidade e sua história. É ele que vai lidar com os limites impostos pela deficiência, nosso papel é de empoderá-lo para poder superar. O preconceito e a desinformação são mais difíceis de lidar do que a deficiência em si. Tive que ir muitas vezes na escola conversar com os professores, pois eles não conseguiam olhar o Rick como uma criança normal. Esta é a grande diferença! Segui meus instintos, li , troquei informações, me apropriei de algumas, umas deram certo, outras precisei abandonar, pois o que para alguns dá certo pode não dar certo para você. Ousei em tudo que podia. Meu conhecimento foi construído na prática, através do meu bom senso e minha intuição, buscando nos erros novas formas de acertar.

O nosso fazer familiar é sempre criativo, tem que ser! O fazer parte da prática e não de conceitos pré-estabelecidos, buscamos estratégias para interagir. Aí a importância de compartilhar experiências, pois podemos nos inspirar na experiência do outro e adaptá-la para a nossa realidade.
A trajetória com o segundo filho foi mais fácil, pois já tinha adquirido a prática de alguns cuidados. Tive mais uma vez que buscar outras estratégias, outras informações para cuidar dele. Se algumas coisas eram muito fáceis para o Rick (o mais velho) para o João não era. Ele precisava de tempo para observar e poder fazer. O Rick se jogava nas coisas e o João não. Mas, quando aprendia, fazia direito. A relação com cada filho é única. Cada um interage e se apropria das coisas de forma diferente.

A necessidade de olhar para a capacidade do Rick com mais atenção nos primeiros anos, mostrou-me o quanto cada um de nós temos potencialidades e habilidades e basta estimular para que elas floresçam. Não tive dificuldades em educar os meus filhos, pois cobrava aquilo que achava que eles podiam dar conta. Nunca deixei de cobrar do Rick e do João o compromisso nos estudos, a responsabilidade e o respeito pelas pessoas. Acompanhava os estudos deles, incentiva-os com brincadeiras e sem dúvida acertei na escolha da escola. Fiz muita pesquisa e fui atrás daquela que eu me identificava. Quis uma escola católica, pois achava a religião muito importante na formação deles, mas queria igualmente uma escola com um projeto pedagógico mais arrojado e comprometido com a sociedade.

O Rick e o João foram alunos dedicados, focados e apaixonados pela Internet e vídeo game. Não precisei por limites, pois eles davam conta dos estudos .
A curiosidade e domínio com a linguagem digital levou o Rick a ser um líder entre o irmão, primos e amigos. Ele fez engenharia. João, fez engenharia também, mas descobriu que não era aquilo que ele queria. Se formou, trabalhou seis meses num banco, voltou a estudar, entrou na Faculdade de Medicina e hoje está no terceiro ano. Sinto que fiz a minha parte: sou amiga e sou mãe!
MARIA
Eu nasci na Bahia, mas vim pequena pra São Paulo, direto para Osasco. Fomos morar num casa de alvenaria, numa favela, hoje não é mais, a área toda foi regularizada e minha mãe tem escritura do lote e da casa.

Moro aqui há 28 anos, no mesmo lugar e na mesma casa. Hoje moro com meu marido e meu filho, no primeiro andar da casa da minha mãe. A casa da minha mãe tem três andares, ela mora no térreo, no segundo andar mora um irmão e no terceiro, o outro irmão.
Eu moro no primeiro andar da casa da minha mãe.

Meu marido é de Pernambuco, mora no Bairro há 15 anos. Eu o conheci no bairro na minha adolescência, no auge da minha fase de rebeldia. Foi ele que me mostrou o meu outro eu, até então, eu me achava feia, burra, gorda, má, um estorvo. Foi com ele, num momento de explosão que eu falei sobre o bulling sofrido na escola tanto pelos colegas como pela professora. Foi a primeira vez que falei sobre isto. Nunca questionei o que a professora falava, pois afinal, eu achava que ela era um ser superior, culto, fonte do saber.

Foi meu marido que me mostrou que a professora e os meus colegas estavam errados. Comecei então a me ver de outra maneira, contei para minha mãe, ela ficou arrasada pois jamais poderia imaginar que eu tinha passado por tudo aquilo na escola. Esta conversa foi muito linda e muito forte entre nós, nos aproximou mais e nos tornamos mais unidas.

Meu marido, na época, era da Umbanda, e eu frequentava muito pouco a Igreja. Começamos aos poucos, por insistência da mãe, a frequentar a Igreja Evangélica e meu marido acabou abandonando a Umbanda para ser tornar evangélico até virou pastor. Ele atualmente é o segundo pastor da Assembleia de Deus próxima de casa.

Meu marido trabalha também como encarregado de produção com carteira assinada. Eu trabalho como cabeleireira de quarta a sábado das 9:00 horas a 19:00 horas. Mas almoço todo dia com o meu filho e o levo para escola à pé, são dois quarteirões de casa.
Alías, meu filho é um excelente aluno: ele está na 5a série. Imagina que ele se alfabetizou sozinho na pré-escola, é um excelente aluno de matemática, mas ele adora estudar comigo! Estou adorando estudar com ele, é um excelente professor e estou pensando em voltar a estudar. Parei na 5a série. O momento mais importante do nosso convívio familiar é o jantar, sempre passamos na Igreja antes. O jantar é a hora da nossa conversa, sobre como foi o dia, reflexões sobre um salmo/história/passagem da bíblia e como se reflete na nossa vida. Nós acreditamos que o amor ajuda nos unir, e as palavras de Jesus, nos ajuda a nos olhar, a nos perdoar, a nos fortalecer. A religião nos fortalece, nos ampara, nos guia.

Tudo aqui é conversado, tudo que um faz, todos tem que saber, partilhamos tudo, até as desavenças na rua. Não quero que o meu filho passe pelo que eu passei.

Foi nas nossas conversas que descobri porque meu filho andava triste: ele não queria ir mais na escola; não estava dormindo direito, enfim reconheci os sintomas que já eu tinha vivenciado antes quando criança na escola. O meu filho também estava sofrendo bulling da professora. Fiquei desesperada e fui conversar na escola com a professora e com a coordenadora. Descobri que vários alunos estavam passando pelo mesmo tipo de problema, a professora era muito rígida. Depois da minha ida na escola, a professora mudou da água para o vinho com todos os alunos, e com o meu filho, ela virou a melhor amiga. Confesso, quando fui falar com a professora, fui insegura, mas foi o sentimento de proteção que me levou até lá. Foi a melhor coisa que eu fiz: enfrentei meu medo!

Minha mãe é minha ídola, minha guia e minha referência. Ela é uma guerreira, sempre batalhou muito. Meus irmãos são meu apoio, posso contar com eles, somos muito unidos. Adoro morar aqui, as pessoas daqui são muito legais, são todos vizinhos antigos, crescemos juntos. O bairro tem bons serviços públicos: a escola, posto de saúde e o Pronto-Socorro são os melhores.

Meu sonho é comprar uma casa maior por aqui, a atual é muito pequena além de ser da minha mãe.
QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO

Um dos maiores desafios para a educação será a transmissão, de forma maciça e eficaz, da informação e da comunicação adaptadas à civilização cognitiva (pois estas são as bases das competências do futuro). Simultaneamente, compete ao ensino encontrar e ressaltar as referências que impeçam as pessoas de ficarem ilhadas pelo número de informações, mais ou menos efêmeras, que invadem os espaços públicos e privados. Assim como, orientar os educandos para projetos de desenvolvimento individuais e coletivos.

O ensino, tal como o conhecemos, debruça-se essencialmente sobre o domínio do aprender a conhecer e, em menor escala, do aprender a fazer. Estas aprendizagens, direcionadas para a aquisição de instrumentos de compreensão, raciocínio e execução, não podem ser consideradas completas sem os outros dois domínios da aprendizagem, muito mais complicados de explorar, devido ao seu caráter subjetivo e dependente da própria entidade educadora.
Estas quatro vias do saber, na verdade, constituem apenas uma, dado que existem pontos de interligação entre elas., eleitos como os quatro pilares fundamentais da educação.

No relatório editado sob a forma do livro: “Educação: Um Tesouro a Descobrir” de 1999 e reeditado pela Editora Cortez (tendo parte da 7a edição, de 2012, servindo como base para uma das modificações deste tema), a discussão dos “quatro pilares” ocupa todo o quarto capítulo, onde se propõe uma educação direcionada para os quatro tipos fundamentais de educação: aprender a conhecer (adquirir instrumentos de da compreensão), aprender a fazer (para poder agir sobre o meio envolvente), aprender a viver juntos (cooperação com os outros em todas as atividades humana), e finalmente aprender a ser (conceito principal que integra todos os anteriores).

Os quatro pilares da Educação são conceitos de fundamento da educação baseados no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors.

Texto extraído de: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Quatro_Pilares_da_Educa%C3%A7%C3%A3o
Manual da Familia
A arte de educar no século XXI.
Desenvolvendo habilidades e reconhecendo potências.

Saiba mais em manualemfamilia.com.br
Siga-nos nas redes sociais
ManualEmFamilia® 2017. All rights reserved.
Made by the Manual em Família Team, at São Paulo Brazil.